Mais uma vez os produtores enfrentam dificuldades para a implantação das lavouras de soja na Região Sul. Na safra passada, foi o excesso de chuvas no momento da semeadura que dificultou o estabelecimento da soja, e agora a falta de umidade no solo em função do déficit hídrico. Os produtores devem ficar atentos ao melhor momento para fazer a semeadura sem comprometer a germinação das lavouras.

Nas regiões mais frias do Brasil – RS, SC e centro-sul do PR – o mês de novembro concentra as operações de semeadura da soja. De acordo com a CONAB (10/11/20), na Região Sul é esperado um incremento percentual na área plantada de 1,6% atingindo 12.282,5 mil hectares de soja.

No Paraná, as lavouras de soja e milho já foram implantadas. Apesar das condições de umidade do solo não terem sido ideais na semeadura, a condição das lavouras em desenvolvimento vegetativo são consideradas boas (Deral/PR 23/11/20).

Em Santa Catarina, o retorno das chuvas mais volumosas no final da primeira quinzena de novembro permitiu o avanço na semeadura da soja, atingindo 53% (CONAB, nov2020). As áreas já semeadas retomaram o desenvolvimento vegetativo normal, sendo que as primeiras lavouras já iniciaram a fase reprodutiva. O retorno das chuvas também aliviou em parte o estresse hídrico sobre as lavouras de milho, embora em algumas regiões a produtividade já tenha sido afetada.

No Rio Grande do Sul, a semeadura da soja alcançou 47% e no milho chegou a 83%, segundo o Informativo Conjuntural da Emater/RS (26/11/20). Apesar do índice ser considerado normal para o período, as condições ambientais como falta de umidade do solo, ventos constantes e alta insolação estão preocupando os produtores. Muitas lavouras precisarão ser ressemeadas devido à germinação desuniforme, enquanto em outras as plantas apresentam dificuldades no desenvolvimento inicial. A presença de chuva em algumas regiões do estado permitiu a retomada do plantio.

Na região de Guaporé, RS, o produtor Wagner Basso plantou, no final de agosto, três hectares (ha) de milho para silagem. Agora, o milho entrou em pendoamento, sofrendo com o déficit hídrico numa fase decisiva para a produtividade da cultura: “Com a última chuva, em meados de novembro, recuperou um pouco, mas a perda no rendimento é certa, já que a falta da água acaba não formando bem o grão”, desabafa.

Na soja, Wagner Basso conseguiu implantar somente 70% da área prevista, aproveitando 40mm de chuva na semana de 15 a 20 de novembro. “Estamos aguardando a previsão de chuva para os próximos dias, caso contrário a germinação ficará comprometida, pois as sementes que ficaram mais fundas, terão uma melhor germinação, diferente das que ficaram mais por cima”, avalia o produtor.

Semente de Qualidade

O déficit hídrico castigou a produção de grãos na Região Sul tanto na safra de verão (2019/2020) quanto na safra de inverno (2020). A condição adversa comprometeu também a produção de sementes, ocasionando queda nos rendimentos e afetando a qualidade das sementes.

Nos cereais de inverno, o clima seco ajudou na sanidade das sementes, mas  limitou os rendimentos no enchimento de grãos. Os resultados foram variáveis, com PH entre 72 e 86, e queda no rendimento em muitas lavouras de sementes. “Quando baixa o rendimento é sinal que o desenvolvimento da semente não foi completo”, alerta o pesquisador da Embrapa Trigo Luiz Eichleberger. Segundo ele, uma semente que não se forma bem ou tem sua fase final apressada, pode sofrer redução no vigor. “Os impactos dos problemas relacionados à colheita são sentidos na safra seguinte, devido aos efeitos sobre a qualidade das sementes”, lembra Luiz.

Luiz Eichelberger lembra que o investimento em sementes de qualidade pode compensar o ambiente adverso: “Semente de qualidade é aquela produzida com acompanhamento no campo e origem conhecida, apresentando, no mínimo, 95% de germinação e 90% de vigor. É a semente certificada que garante segurança ao produtor”.

Cautela para acertar a semeadura

O analista de transferência de tecnologias da Embrapa Trigo Marcelo Klein alerta que, para estabelecimento da cultura da soja, por exemplo, a semente precisa absorver 50% do seu peso em água para iniciar o processo de germinação e emergência, o que limita a semeadura sem unidade no solo: “No ano passado, por falta de chuva no final do ciclo reprodutivo, as sementes de soja não tiveram um bom resultado em qualidade. Neste ano, o produtor deve ter cautela na hora da semeadura, aguardando o melhor momento, com bom teor de umidade, pois se as sementes forem colocadas no solo seco e não germinarem, será necessária a ressemeadura”, esclarece Marcelo, lembrando que o valor para compra de sementes está elevado, além de ter pouco volume disponível no mercado.

De acordo com o Boletim Agroclimatológico do INMET (nov2020), no período de novembro de 2020 a janeiro de 2021, as chuvas deverão ficar abaixo da média nos três estados do sul do Brasil, exceto no nordeste e oeste do PR e de SC. O déficit hídrico deverá ser ainda mais acentuado na metade Sul do RS a partir de dezembro.

A orientação da Embrapa é monitorar a umidade do solo e só fazer a semeadura quando houver ambiente favorável que permita a germinação das sementes. Alguns produtores estão arriscando semeaduras no seco, com base na previsão de chuvas nos dias seguintes, mas num ano com baixa oferta de sementes no mercado, o risco pode custar caro.

Outro cuidado é investir no tratamento de sementes. “O tratamento de sementes sempre foi uma etapa importante, mas neste ano é indispensável. A semente pode ficar mais tempo debaixo do solo à espera de chuva, com maior possibilidade de ser atacada por pragas e doenças antes mesmo da germinação”, explica Luiz Eichelberger.

A umidade do solo também vai definir os ajustes na profundidade de deposição das sementes, conforme a disponibilidade de água do solo. O ajuste também deve ser considerado na pressão da roda da semeadora, permitindo que a semente tenha a maior cobertura possível de forma a aproveitar a umidade no contato com o solo.

Saiba mais sobre qualidade das sementes assistindo ao vídeo abaixo:

Autor: Joseani Antunes – Embrapa Trigo com colaboração de Matheus Wagner Basso – Estagiário de jornalismo na Embrapa Trigo

Fonte: Embrapa

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