O objetivo do estudo foi avaliar o efeito supressor do azevém (Lolium multiflorum) associado ao manejo de dessecação com herbicidas latifolicidas no controle de buva.

Autores: Mariane C. Coradini¹; Matheus B. Martins¹; Benito B. Elias²; Felipe Soder²; André Andres³

Introdução

O uso contínuo do herbicida glyphosate favoreceu o surgimento de populações de plantas daninhas resistentes na cultura da soja, principalmente as do gênero Conyza. Estima-se que mais de 7,7 milhões de hectares estão infestados com essas populações, tornando o controle mais difícil e aumentando os custos de produção (Adegas et al., 2017). Dessa forma, programas mais amplos de manejo como a diversificação de herbicidas associado a práticas culturais são necessários.

Espécies do gênero Conyza requerem luz para iniciar o processo germinativo de suas sementes, sendo o período da entressafra da soja (outono/inverno) o pico de germinação (Vargas & Gazziero, 2009). O cultivo de plantas de cobertura nesse período torna-se uma alternativa para reduzir a densidade populacional de buva. Além disso, as plantas que germinarem ao final do ciclo da cultura serão menores e melhor controladas com o manejo pré-semeadura da soja (Vargas & Gazziero, 2009). Diante disso, o objetivo do estudo foi avaliar o efeito supressor do azevém (Lolium multiflorum) associado ao manejo de dessecação com herbicidas latifolicidas no controle de buva.

Material e Métodos

O experimento foi conduzido na Estação Experimental Terras Baixas da Embrapa Clima Temperado, Capão do Leão, RS, durante a safra 2020/21. O azevém BRS Ponteio foi semeado em 30 de abril de 2020, ao longo do ciclo foram realizadas duas operações de adubação em cobertura utilizando 100 kg de uréia e 50 kg de fosfato diamônico ha-1. O delineamento experimental adotado foi blocos ao acaso com quatro repetições, cujas unidades experimentais constaram de parcelas com dimensões de 15 m2 (3×5 m). O experimento foi constituído por dois fatores, um com a presença ou ausência de azevém e outro com diferentes combinações de herbicidas latifolicidas associados ao herbicida glyphosate. A infestação de buva (Conyza spp.) na área era em média de 123 plantas.m, proveniente do banco de sementes do local.

No dia 29 de setembro de 2020 foi realizada a aplicação dos herbicidas que constituíram o manejo de dessecação para o controle de buva (Tabela 1), utilizando pulverizador costal pressurizado por CO2 e barra equipada com quatro pontas Teejet 110.015 espaçadas 0,5 m entre si, proporcionando volume de calda constante de 120 Lha-1. A cultivar Brasmax Ponta (7166RSF IPRO) foi semeada no dia 04 de dezembro de 2020, com mecanismo sulcador e linhas espaçadas 0,45 m entre si, regulada para distribuir 12 sementes por metro e 350 kg ha-1 de adubo formulado (NPK 02-25-25). Em 11 de dezembro de 2020 foi realizada aplicação em pré-emergência da cultura com o herbicida glyphosate (1.440 g ha-1) + S-metalochlor (1.440 g ha-1) em todos os tratamentos da tabela 1, utilizando o mesmo equipamento descrito anteriormente.

As variáveis avaliadas foram o controle de buva (Conyza spp.) (Tabela 2), utilizando escala percentual onde a nota zero (0) representou a ausência de injúrias e a nota cem (100) a morte das plantas daninhas. Também foi realizada a colheita manual das unidades experimentais em área útil de 3m2, para avaliação da produtividade da cultura. As amostras foram trilhadas, limpas, pesadas e analisadas quanto a umidade dos grãos, sendo o peso corrigido para umidade padrão de 14%. Os dados foram submetidos a análise da variância (p≤0,05) e sendo apontada diferença significativa entre os tratamentos, foi realizada comparação das médias através do teste de Tukey (p≤0,05) no software estatístico R versão 4.1.0.

Resultados e Discussão

Diante dos resultados obtidos, verificou-se que o cultivo do azevém reduziu de maneira significativa a infestação de plantas de buva na área, cerca de 88% e 91% nos meses de agosto e setembro, respectivamente (Figura 1). A análise de variância não apontou diferenças significativas entre os tratamentos para os dados de produtividade (dados não apresentados). A alta quantidade de resíduos de azevém na superfície do solo prejudicou a qualidade das operações de semeadura, podendo estar relacionado pela lenta decomposição da palha do azevém em razão da sua elevada relação C/N.

A análise de variância apontou diferenças significativas entre os grupos com a presença e ausência do azevém no controle de buva aos 27 dias após aplicação dos herbicidas (Tabela 2). Nos tratamentos com a presença do azevém houve efeito expressivo na redução da população de buva, sendo o controle satisfatório independente do herbicida utilizado. Como esperado, houve infestação apenas no tratamento com a aplicação isolada do glyphosate (28 plantas.m). Em relação ao grupo sem azevém, verificou-se diferenças entre os tratamentos, sendo melhor o controle quando o glyphosate foi associado a herbicidas latifolicidas, os quais reduziram em média 81% da infestação em comparação ao tratamento apenas com glyphosate (168 plantas.m). No geral, os tratamentos com associação de herbicidas com ação de contato e sistêmicos, evidenciaram os melhores resultados na redução da infestação, com destaque para a combinação de 2,4-D + saflufenacil + metsulfuron-methyl + glyphosate, onde foram verificadas somente 0,9 plantas.m.

Conclusão

A presença do azevém como planta de cobertura na entressafra da soja, reduz significativamente a população de buva, podendo diminuir a necessidade de herbicidas na dessecação pré-semeadura da soja. Sem a presença do azevém, a associação do herbicida glyphosate com latifolicidas é indispensável para proporcionar eficiente controle de buva.

Informações sobre os autores:

  • ¹Acadêmicos do Programa de Pós-graduação em Fitossanidade, Universidade Federal de
    Pelotas (UFPel), Pelotas/RS. E-mail: marianecoradini@hotmail.com; matheusbastosmartins@gmail.com;
  • ²Acadêmicos do Curso de Agronomia, Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pelotas/RS. Email: benitobelias@gmail.com; felipe97juniorsoder@hotmail.com;
  • ³Pesquisador da Embrapa Clima Temperado, Pelotas/RS. E-mail: andre.andres@embrapa.br.

Referências

ADEGAS, F.S.; VARGAS, L.; GAZZIEIRO, D.L.P.; KARAM, D. Impacto econômico da resistência de plantas daninhas a herbicidas no Brasil. Londrina: Embrapa Soja, 2017. 11p.

VARGAS, L.; GAZZIERO, D. L. P. Manejo de buva resistente ao glifosato. Passo Fundo: Embrapa Trigo, 2009. 16p. Documentos, 91.


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