Quando as pragas atingem o nível de controle (momento mais apropriado para intervir com medidas de manejo), recomenda-se entrar com estratégias protetivas a fim de controlar os insetos.
Vários fatores influenciam na tomada de decisão, como os princípios ativos, a própria praga, preço dos produtos e sua eficiência. Este último fator é um dos mais importantes para realizarmos um manejo satisfatório.
Neste texto vamos conhecer quais os grupos químicos de inseticidas recomendados para as principais pragas agrícolas e trazer resultados para corroborar com a eficiência de controle.
Figura 1. Pulverizações em soja.
Qual a importância de realizarmos aplicações?
O controle de insetos deve ser realizado quando atinge o nível de controle das pragas. Posteriormente a esta fase, as pragas reduzem a produtividade e aumentam os custos para o produtor.
Um mesmo produto pode causar mortalidade em diversos insetos, como percevejos, lagartas e mosca-branca. Contudo, devemos conhecer qual a eficiência dos inseticidas diante a infestação de determinada praga.
Além disso, um produto pode ser destinado a lavouras de soja, bem como de tomate e melão. Para sabermos quais produtos podem ser aplicados em nossa lavoura, você pode consultar o banco de dados do Portal Agrofit clicando aqui!. É seguro, atualizado e gratuito.
Primeiro, precisamos entender alguns conceitos:
- Mecanismo de ação: local onde as moléculas de inseticidas agem no corpo da praga;
- Modo de ação: como os produtos causam mortalidade nos insetos;
- Ingrediente ativo (i.a.): substância química que realmente controla a praga.
Quais são as principais formas de causar mortalidade nos insetos?
O contato direto ocorre através das aplicações de sprays. No entanto, elas precisam atingir o alvo, tornando o controle mais difícil devido a menor exposição de alguns insetos.
Por exemplo, se você decidir aplicar inseticidas de contato direto, recomenda-se conhecer o comportamento das pragas. Os percevejos sobem para o dossel superior da planta no início da manhã para se aquecerem e aumentar a movimentação. Este é o momento mais apropriado para controle desses sugadores. Já, a lagarta falsa-medideira apresenta comportamento de permanecer a maior parte do tempo no dossel inferior da planta, dificultando o controle com inseticidas que apresentam ação de contato direto.
O contato residual são produtos que permanecem nas folhas, possibilitando controle mesmo quando não entra em contato direto com a praga.
O modo ingestão está relacionado com o consumo do alimento contaminado. Podemos verificar em plantas Bt ou bioinseticidas a base de Bt para controle de lepidópteros. É absorvido no intestino médio das pragas, corrompendo esta estrutura e causando mortalidade.
O modo de ação Fumigante, são inseticidas com odor muito intenso, agindo nos insetos através da inalação do gás por suas vias respiratórias (Yamamoto).
A ação repelência pode ser por contato ou inalação, espantando os insetos ao invés de eliminá-los. Exemplo: Deltametrina (piretroide).
Figura 2. Modos de ação nos insetos.
Alguns grupos químicos relevantes de inseticidas:
Neonicotinoides
A molécula usada para a formulação é a nicotina e foi descoberta através da extração das plantas de tabaco (Nicotiana tabacum) na década de 1970.
O mecanismo de ação atua no sítio de nervo e músculo, onde a molécula do inseticida imita a acetilcolina e compete com ela. Esta, por sua vez, não é degradada, ocorrendo a passagem descontrolada e contínua dos impulsos nervosos.
O grupo químico dos neonicotinoides apresentam diversos princípios ativos. O que apresenta maior distribuição no mundo é o Imidacloprido. Outros produtos como Tiametoxam, Acetamiprido, Clotianidina, Dinotefurano e Tiacloprido também são pertencentes a esse grupo.
Apresentam efeito residual. Este fator está relacionado com a sua ação a longo prazo. São extremamente eficientes para controle de sugadores, como é possível observar tabela 1.
Piretroides
São originários de compostos das flores do crisântemo. Apresentam efeito de choque. Isso quer dizer que podem causar mortalidade assim que a praga se contaminar, chamado de “Knock down”. Esse comportamento ocorre, pois apresentam a mais rápida ação na transmissão dos impulsos nervosos.
O mecanismo de ação ocorre através do bloqueio dos canais de sódio, resultando em paralização do inseto. Utiliza-se piretroides para tratar de sugadores, lagartas e mosca-branca.
Este produto apresenta potencial de manejo sobre diversos insetos, podendo ser caracterizado como um produto com amplo espectro de ação. Por isso, os inimigos naturais sofrem com sua aplicação.
Alguns ingredientes ativos deste grupo são: Lambda-cialotrina, deltametrina, beta-cialotrina, bifentrina, alfacipermetrina, beta-ciflutrina. Atente para o final dos ingredientes: “trina”.
Geralmente, no manejo de percevejos, por exemplo, estes produtos são utilizados em misturas com neonicotinoides, pois o conjunto resulta em efeito de choque + ação residual.
No trabalho de Oliveira et al. (2016), intitulado “EFICIÊNCIA DE INSETICIDAS NO CONTROLE DO PERCEVEJO-MARROM, Euschistus heros, EM SOJA”, é possível observar que as misturas são frequentes no controle de percevejos.
Observe na Tabela 1, que a mistura de Acefato + Imidacloprido obtiveram eficiência de 100% até 4 dias após aplicação. Bifentrina + Imidacloprido apresentaram eficiência satisfatória no início das avaliações, no entanto foram reduzindo até 10 dias após aplicação. Perceba que os produtos reduzem seu controle, com maior efeito residual de Lambda-cialotrina + Tiametoxam (70% de eficiência aos 10 DAA).
Tabela 1. Eficiência de controle de inseticidas piretroides, neonicotinoides e organofosforados sobre percevejo-marrom (Euschistus heros) aos 2, 4, 7 e 10 dias após aplicação.
Organofosforados
Um dos principais ingredientes ativo deste grupo químico é o Acefato, considerado um inseticida sistêmico com ação de contato e ingestão. O mecanismo está relacionado com a inibição das enzimas colinesterases, aumentando os impulsos nervosos e resultando na morte das pragas (Lavoura 10, 2018).
São considerados biodegradáveis, apresentando baixa persistência no solo (1-3 meses). Apresentam largo espectro de ação, controlando diversas pragas.
Outros ativos deste grupo: Clorpirifós, dimetoato, Fenitrotione, Profenofós, entre outros.
Este grupo já teve um ativo muito utilizado especialmente para o controle de percevejos e lagartas, o metamidofós, atualmente com seu uso proibido no brasil
Diamidas
O mecanismo de ação das diamidas ocorre através da liberação descontrolada de cálcio intracelular, agindo na contração muscular. O modo de ação apresenta parada alimentar, paralisia e morte.
As diamidas possuem um preço superior no mercado em relação aos demais inseticidas, sendo um fator de grande importância na tomada de decisão.
Em 2009, foram lançados no mercado os produtos Clorantraniliprole (diamidas antranílicas) e Flubendiamida (diamida do ácido ftálico).
Apresentam elevada eficiência em lagartas desfolhadoras (lagarta-da-soja e falsa-medideira, das vagens (Complexo Spodoptera) e a espécie Helicoverpa spp.
Note na Tabela 2, que o controle proporcionado por ativos deste produto apresenta eficiência em lagartas que possuem maiores dificuldades de manejo, como a Helicoverpa armigera.
Tabela 2. Controle de H. armigera com produtos químicos e biológicos.
Reguladores de crescimento
O mecanismo de ação destes inseticidas está relacionado com o processo de ecdise das pragas, provocando falhas ou aceleração da ecdise/muda do exoesqueleto.
Fazem parte deste grupo os inseticidas inibidores de biossíntese de quitina (benzoilureias), inseticidas agonistas de ecdisteroides (diacilhidrazinas) e agonistas do hormônio juvenil (piriproxifem).
Piriproxifem apresenta eficiência significativa no controle de mosca-branca (Bemisia tabaci). Tomquelski et al. (2020), relatou que Piriproxifem apresenta eficiência superior a 80% entre 10-15 dias após a segunda aplicação do produto, apresentando em misturas os melhores resultados de controle entre os inseticidas testados.
Bacillus thuringiensis
Bioinseticidas a base de Bt também podem ser aplicados visando controle de lagartas, sendo uma importante ferramenta para o manejo integrado de pragas, pois não interferem negativamente na população de inimigos naturais, como ocorre com muitos grupos de inseticidas sintéticos. O mecanismo de ação acontece através das proteínas que corrompem o sistema digestivo das lagartas.
Outra metodologia é a utilização de plantas Bt, onde há a produção das toxinas no interior das plantas, protegendo-as desde o início do seu desenvolvimento.
Considerações finais
Os inseticidas são utilizados de forma a reduzir as infestações de pragas, causadoras de prejuízos e reduções de rendimentos. São ferramentas incluídas no Manejo Integrado de Pragas (MIP) e apresentam eficiência desde que manejadas de forma correta.
Os principais inseticidas utilizados para controle de percevejos são misturas de neonicotinoides + piretroides. Para tratar lagartas, temos inseticidas reguladores de crescimento, diamidas e a tecnologia Bt, presente na genética das cultivares ou em inseticias biológicos.
São diversos os produtos pertencentes ao controle químico. Contudo, o monitoramento é a primeira e a principal ferramenta de manejo. Quando se atingir o nível de controle, recomenda-se entrar com estratégias, seja biológica, química, genética ou comportamental.
Não se esqueça de que a utilização dos mesmos princípios ativos pode resultar em resistência pelas pragas e inviabilização dos produtos. Seja consciente e responsável nas aplicações, escolhendo defensivos apropriados para determinada praga-alvo e cultura.
Referências
BOAS PRÁTICAS AGRONÔMICAS. Inseticidas: aliados no controle de insetos-praga. 2019.
LAVOURA 10. 4 PRINCIPAIS INSETICIDAS PARA COMBATER PRAGAS DE GRÃOS. 2018.
KUSS, Cassiano Carlos et al. Controle de Helicoverpa armigera (Lepidoptera: Noctuidae) em soja com inseticidas químicos e biológicos. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 51, n. 5, p. 527-536, 2016.
OLIVEIRA, J. et al. EFICIÊNCIA DE INSETICIDAS NO CONTROLE DO PERCEVEJO-MARROM, Euschistus heros, EM SOJA. RESUMOS EXPANDIDOS, v. 1, n. 2, p. 80, 2016.
TOMQUELSKI, Germison Vital et al. Eficiência de inseticidas para o controle da mosca-branca Bemisia tabaci biótipo B (Hemiptera: Aleyrodidae) em soja nas safras 2017/2018 e 2018/2019: resultados sumarizados dos ensaios cooperativos. Embrapa Soja-Circular Técnica (INFOTECA-E), 2020.
Yamamoto, Pedro. Controle Químico de Pragas. Departamento de Entomologia e Acarologia ESALQ/USP
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Redação: Equipe Mais Soja.
Introdução suscita, porém um bom início para estudo!