O que são organismos do controle biológico?
São bactérias, fungos, vírus, parasitoides, ácaros e alguns insetos que encontrados no ambiente de forma natural e que podem causar mortalidade na população de pragas fitófagas.
Os insetos que apresentam eficiência de controle de algumas pragas agrícolas devem ser conservados, pois promovem mortalidade natural de insetos pragas, reduzindo o número de aplicações de inseticidas e com isso o custo de produção.
Como manter a população de inimigos naturais?
- Utilizar inseticidas naturais ou seletivos ao alvo, pois causam baixa toxicidade aos inimigos naturais;
- Pode-se utilizar de produtos químicos, mas deve-se saber manejá-los;
- Não realizar aplicações calendarizadas considerando estágios da planta, resultando em diversas pulverizações;
- Verificação e identificação de inimigos naturais, a fim de não os confundir com pragas.
- Tesourinhas (Dermaptera)
São predadores de ovos, pulgões, mosca-branca, lagartas neonatas/pequenas (Helicoverpa armigera e Spodoptera frugiperda) e pupas.
Figura 1. Tesourinhas.

Como visualizamos na Figura 2, o controle com tesourinhas (Doru luteipes (Dl) e Euborelia annulipes (Ea), pode atingir cerca de 30% das presas de Helicoverpa armigera. A espécie Doru luteipes (Dl) apresenta a maior eficiência de controle tanto em lagartas quanto em ovos da praga.
Figura 2. Número de presas (ovos e lagartas de Helicoverpa armigera) consumidas em 24 horas pelo terceiro e quarto ínstares de duas espécies de tesourinhas: Doru luteipes (Dl) e Euborelia annulipes (Ea).

As aplicações de inseticidas podem reduzir drasticamente a população de tesourinhas. Algumas misturas podem causar mortalidade total nos inimigos naturais, principalmente na espécie que apresenta elevado manejo na lagarta-do-velho-mundo, como visualizamos na Figura 3.
Figura 3. Sobrevivência de tesourinhas após 5 dias tratadas com inseticidas.

2. Bicho-lixeiro: Crisopídeos (Neuroptera: Chrysopidae)
Agem controlando pulgões, ácaros e pequenos insetos.
Figura 4. Ninfa (esquerda) e adulto (direita).

3. Joaninhas (Coleoptera: Coccinellidae)
Consomem pulgões, cochonilhas, ácaros, mosca-branca, larvas e ovos.
Quando nos referimos a estes insetos, precisamos reconhecer suas fases larvais e de pupa, pois são diferentes da forma adulta, como mostra a Figura 5.
Figura 5. Larvas (primeira e segunda foto) e pupa de joaninha (terceira foto).

4. Percevejos reduviídeos (Hemiptera: Reduviidae)
Alimentam-se de uma ampla faixa de insetos, principalmente de besouros e lagartas.
Figura 6. Adulto com destaque para seu aparelho bucal (esquerda) e predação em besouro (direita).

5. Ácaros predadores (Acari: Phytoseiidae)
São ácaros diferentes dos demais, apresentando rápido deslocamento. Realiza controle sobre outros ácaros e pulgões. Note na Figura 7, a presença do predador e do seu alimento (ácaro-rajado).
Figura 7. Ácaro praga e predador.

6. Percevejos pentatomídeos: Podisus nigrispinus
Possui a capacidade de predar lagartas desfolhadoras (lagarta-da-soja), larvas e adultos de besouros e ninfas e adultos de percevejos.
Figura 8. Ninfa (a) e adulto (b) de Podisus sp. se alimentando de lagarta Anticarsia gemmatalis.

Em um estudo realizado por Simonato (2018), pesquisou-se o controle desse inseto dobre a lagarta Helicoverpa armigera.
Nota-se na Figura 9, que o controle em lagartas adultas pelo percevejo é superior a 2 lagartas.dia-1. Sabendo-se que o nível de controle (momento correto para iniciar o manejo e evitar danos econômicos) desta lagarta é de 2.metro-1 na fase reprodutiva da soja, sendo assim, o controle biológico pode interferir de maneira positiva no combate.
Figura 9. Lagartas de Helicoverpa armigera predadas por Podisus nigrispinus, em 24 horas.

7. Parasitoides
São microvespas que depositam seus ovos no corpo de outro inseto fitófago. Os parasitoides se abrigam e se alimentam no interior do corpo dos insetos pragas. Consomem todas as formas de vida de mosca-branca, pulgões, lagartas, besouros e percevejos.
Figura 10. Lagarta com presença de casulos do parasitoide em sua parte externa.

Simonato (2018), relatou que ocorre parasitismo natural em diversas fases da lagarta Helicoverpa armigera. Contudo, em sua fase de pupa, ocorre grande eficiência no controle, como observamos na Tabela 1.
Considerando que o ciclo de vida do parasitoide é de 25 dias, pode ocorrer controle em diversas fases de vida da lagarta-do-velho-mundo.
Tabela 1. Parasitoide Tetrastichus howard controlando lagartas de Helicoverpa armígera.

Qual a toxicidade para os parasitoides?
Campos (2019), verificou a porcentagem de emergência de parasitoides de Telenomus podisi após aplicação de inseticidas.
Observe na Tabela 2, que misturas contendo Bifentrina + Carbosulfano e Bifentrina apresentam alta mortalidade sobre os parasitoides, apresentando redução da população acima de 99%. Resultados similares foram encontrados para misturas de Tiametoxam + Lambda-cialotrina.
Tabela 2. Porcentagem de emergência de Telenomus podisi após aplicação de inseticidas.

Para acessar todos os insetos considerados predadores, acesse o Guia de Reconhecimento dos Inimigos Naturais desenvolvimento pela Embrapa, clicando aqui!
Qual a importância de conservarmos os inimigos?
- Redução de aplicações de inseticidas;
- Controle natural das pragas;
- Redução de custos;
- Maior conservação do ambiente;
- São os maiores responsáveis pela regulação da densidade populacional de pragas.
É preciso aplicar inseticidas, e agora?
Busque por inseticidas mais seletivos, como os que agem no sistema digestivo das pragas (Bt) ou inseticidas naturais, como baculovírus.
Além disso, produtos com amplo espectro de ação (não apresentam alvo e podem controlar diversos insetos) como piretroides e organofosforados, recomenda-se aplicações no final do ciclo da cultura.
Bônus
Além das aplicações que alteram a população, temperaturas superiores ou iguais 33°C e inferiores a 19C° interferem na menor densidade populacional de parasitoides de ovos Telenomus podisi (Mariani, 2019).
Veja também: Culturas com Tecnologia Bt e as Principais Pragas Controladas
Considerações finais
Os inimigos naturais, como tesourinhas, bicho-lixeiro, percevejos, ácaros e parasitoides (apresentam eficiência de 60% de controle) são extremamente importantes no manejo natural de pragas que reduzem as produtividades das culturas agrícolas.
Para que preservemos sua presença, nota-se a importância de aplicarmos inseticidas naturais e seletivos, manejar as culturas com MIP (Manejo Integrado de Pragas), utilizar de culturas que possuem a capacidade de atrair os inimigos, realizar aplicações de forma correta e sustentável e, por fim, sabermos identificar os inimigos que podem agir ao nosso favor na lavoura.
Os inseticidas do grupo químico dos piretroides, por possuírem amplo espectro de ação, podem reduzir drasticamente a densidade populacional dos inimigos naturais. Além disso, lembre-se de monitorar e apenas aplicar quando atingir o nível de controle, realizando as aplicações quando realmente for necessário, reduzindo o número de inseticidas e os custos para o produtor, além de preservar os insetos do controle biológico.
REFERÊNCIAS
CAMPOS, E. F. SELETIVIDADE DE INSETICIDAS SOBRE PARASITOIDE DE OVOS Telenomus podisi Ashmead 1893 (Hymenoptera: Platygastridae), Universidade Federal da Grande Dourados, Tese, 2019. Disponível em: < http://repositorio.ufgd.edu.br/jspui/handle/prefix/494 >, acesso em: 30/11/2020.
MARIANI, A. OSCILAÇÕES TÉRMICAS SOBRE O PARASITOIDE DE OVOS Telenomus podisi (Ashmead)(Hymenoptera: Scelionidae). Universidade Federal da Grande Dourados, Dissertação, 2019. Disponível em: < http://repositorio.ufgd.edu.br/jspui/handle/prefix/1297 >, acesso em: 30/11/2020.
SILVA, A. de C. Guia para o reconhecimento de inimigos naturais de pragas agrícolas. Embrapa Agrobiologia-Fôlder/Folheto/Cartilha (INFOTECA-E), 2013. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/handle/doc/963933 >, acesso em: 30/11/2020.
SIMONATO, J. AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE INIMIGOS NATURAIS NO CONTROLE BIOLÓGICO DE Helicoverpa armigera (Hübner, 1805)(Lepidoptera: Noctuidae). Universidade Federal da Grande Dourados, Tese, 2018. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/191682/1/Tese-Juliana-Simonato.pdf >, acesso em: 30/11/2020.
SOUZA, C. S. F. et al. CONTROLE BIOLÓGICO: QUAL ESPÉCIE DE TESOURINHA CONSOME MAIS LAGARTAS E PODE SER MENOS SENSÍVEL À EXPOSIÇÃO A INSETICIDAS? Embrapa Milho e Sorgo, Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, n. 188, 2019. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/201291/1/bol-188.pdf >, acesso em: 30/11/2020.
Redação: Equipe Mais Soja.