Na busca pelo aumento da produtividade da soja, muito se fala sobre arquitetura de plantas e sanidade da parte aérea da cultura, entretanto, além de uma boa distribuição de folhas e sanidade do dossel, é essencial garantir um adequado desenvolvimento do sistema radicular das plantas. Além de dar suporte e fixação à planta, as raízes são responsáveis por absorver de água a nutrientes do solo, além realizar a simbiose com bactérias fixadoras de Nitrogênio para suprir a demanda de Nitrogênio da planta via FBN.
Estudos demonstram haver uma relação direta entre a produtividade da soja e o volume de raízes e de solo explorado pelas plantas. Conforme analisado por Faé et al. (2020), em um estudo conduzido nos EUA pelos autores, o aumento da profundidade do sistema radicular da soja de 75cm para 95 cm, proporcionou um aumento de produtividade de 4.200 kg ha-1 para 6.500 kg ha-1, cerca de 55% superior. Além disso, os autores destacam que a profundidade das raízes foi responsável por explicar 60% da variação na produtividade.
Figura 1. Relação entre a profundidade de raízes da soja e a produtividade da cultura em lavouras comerciais de soja de alta produtividade nos EUA.
Considerando que aproximadamente 70% da umidade absorvida pelas raízes é proveniente da porção superior da zona radicular, outros 20% do terço intermediário enquanto 10% provêm do terço inferior (Debiasi et al., 2022), o aumento do volume radicular e da profundidade das raízes representa aumentar o volume de solo explorado, e consequentemente a disponibilidade de água e nutriente do solo, podendo inclusive, aumentar a tolerância de plantas a curtos períodos de estresses hídricos.
Sobretudo, para um bom crescimento do sistema radicular da soja, é necessário que não haja nenhum tipo de impedimento. Basicamente, há dois tipos de impedimentos para o crescimento do sistema radicular das plantas, o impedimento químico e o impedimento físico. O impedimento químico ocorre quando há a presença de metais pesados e/ou alumínio tóxico no solo. A inibição do crescimento da raiz é o sintoma visível mais rápido da toxicidade do Alumínio em plantas, o que resulta na redução e em danos do sistema radicular, podendo conduzir à deficiência mineral e estresse hídrico (Echart & Cavalli-Molina, 2001).
O impedimento químico é solucionado mediante análise químico da fertilidade do solo e realização da prática da calagem quando necessário, utilizando corretivos agrícolas que permitam a neutralização do Alumínio no solo. Já o impedimento físico, ocorre basicamente quando há a restrição física/mecânica ao crescimento das raízes.
Um dos fatores com maior impacto na restrição física ao crescimento de raízes de soja é a compactação do solo. Conforme observado por Cardoso et al. (2006), a compactação do solo afeta diretamente a volume de raízes da soja, sendo que, a medida em que há o aumento da resistência do solo a penetração (RP), há a redução do volume de raízes da soja. A resistência do solo a penetração (RP) é uma das principais formas de mensurar a compactação do solo, em tese, quanto maior do valor de RP, maior a compactação no solo.
Figura 2. Correlação entre o volume de raízes de soja (cm.cm-3) e a resistência do solo a penetração (MPa), na profundidade de 5–15 cm no sistema de plantio direto compactado para as cultivares Embrapa-4 ( ∆ ) e BR-16 ( ● ).
A maior redução do volume radicular da soja em função do aumento da compactação pode influenciar diretamente a produtividade da cultura conforme corroborado por Savioli et al. (2021). Avaliando parâmetros vegetativos e o rendimento da soja sob diferentes níveis de compactação do solo, os autores observaram que a medida em que há o aumento da densidade do solo, tem-se a redução da produtividade da cultura.
Além dos efeitos visuais em parâmetros vegetativos da soja (figura 4), os autores observaram que quanto mais compactado o solo estiver, menor será a massa seca dos grãos e, consequentemente, menor será a sua produtividade, sendo que, a partir de densidades de 1,2 Mg m-3, já é possível observar redução significativa, principalmente com relação a massa de grãos de soja.
Figura 3. Regressão linear simples dos dados de massa seca de grãos de soja em função da densidade de solo (1,1; 1,2; 1,3; 1,4 e 1,5 g cm-3).
O estudo conduzido por Savioli et al. (2021) demonstra que os tratamentos com maior compactação, com valores de Densidade do solo (Ds) de 1,3; 1,4 e 1,5 g cm-3, apresentaram menores rendimentos de grãos quando comparados aos tratamentos com menor compactação (Ds 1,1 e 1,2 g cm-3). Esses resultados demonstram a importante contribuição do sistema radicular para a produtividade da soja, sendo essencial o bom crescimento e desenvolvimento das raízes para a obtenção de boas produtividades.
A restrição no crescimento das raízes de soja implica não só na absorção de água, como também de nutrientes e na capacidade da planta em resistir a estresses hídricos, afetando assim, a produtividade e estabilidade produtiva da cultura. Logo, as raízes de soja são tão importantes para a obtenção de altas produtividade quanto a parte aérea de cultura.
Fonte: Savioli et al. (2021)
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Referências:
CARDOSO, E. G. et al. SISTEMA RADICULAR DA SOJA EM FUNÇÃO DA COMPACTAÇÃO DO SOLO NO SISTEMA DE PLANTIO DIRETO. Pesq. agropec. bras., Brasília, v.41, n.3, p.493-501, mar. 2006. Disponível em: < https://www.scielo.br/pdf/pab/v41n3/29122.pdf >, acesso em: 17/01/2024.
DEBIASI, H. et al. NÍVEIS DE MNEJO DO SOLO PARA AVALIAÇÃO DE RISCOS CLIMÁTICOS NA CULTURA DA SOJA. Documentos 447, Embrapa Soja, Londrina – PR, 2022. Disponível em: < https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/riscos-seguro/programa-nacional-de-zoneamento-agricola-de-risco-climatico/estudos_observatorio-do-zarc/estudos-2022/2022HenriqueDebiasiNveisdemanejodosoloparaavaliaoderiscosclimticosnaculturadasoja.pdf >, acesso em: 17/01/2024.
ECHART, C. L.; CAVALLI-MOLINA, S. FITOTOXICIDADE DO ALUMÍNIO: EFEITOS, MECANISMO DE TOLERÂNCIA E SEU CONTROLE GENÉTICO. Ciência Rural, v. 31, n. 3, 2001. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/cr/a/xRLkkL5hjcMMbhqDpsVRqfH/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 17/01/2024.
FAÉ, G. S.; KEMANIAN, A. R.; ROTH, G. W.; WHITE, C.; WATSON, J. E. SOYBEAN YIELD IN RELATION TO ENVIRONMENTAL AND SOIL PROPERTIES. European Journal of Agronomy, v. 118, 2020. Disponível em: < https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S1161030120300770#:~:text=Saturated%20hydraulic%20conductivity%20(ksat,exceeding%207%20Mg%20ha%2D1. >, acesso em: 17/01/2024.
SAVIOLI, M. R. et al. COMPONENTES DE PRODUÇÃO DA SOJA SOB NÍVEIS DE COMPACTAÇÃO DO SOLO. Acta Iguazu, Cascavel, v.10, n.2, p. 1-12, 2021. Disponível em: < https://e-revista.unioeste.br/index.php/actaiguazu/article/view/26312/17560 >, acesso em: 17/01/2024.