Além do posicionamento de defensivos agrícolas, um dos fatores decisivos para a eficiência e eficácia no controle de pragas, doenças e plantas daninhas em culturas agrícolas, é a qualidade da aplicação desses defensivos agrícolas. Um dos parâmetros mais discutidos com relação a tecnologia de aplicação é o tamanho de gota.
Na tecnologia de aplicação de defensivos agrícolas, o tamanho de gotas varia em função do diâmetro medido volumétrico (DMV – μm) e do potencial de risco de deriva (PRD), sendo esses, os parâmetros utilizados para classificação do tamanho da gota. O tamanho da gota condiciona o espectro de cobertura e a capacidade de penetração da mesma no dossel da cultura (Agronômico, 2014). Sendo assim, apresenta relação direta com a eficácia no controle de pragas, doenças e plantas daninhas nas lavouras.
Tabela 1. Classes de tamanho de gotas, segundo as normas ASAE S-572 e BCPC, com características correspondentes (DMV e PRD).
Visando um controle eficiente de pragas, doenças e plantas daninhas, é fundamental que a pulverização atinja o alvo. Sobretudo, para uma maior eficácia de controle, as gotas pulverizadas devem recobrir uma área satisfatória do limbo foliar e/ou praga. O tamanho das gotas pode influenciar na capacidade de cobertura da área pulverizada. Gotas grossas resultam em uma pulverização com menor potencial de deriva, porém apresentam menor cobertura e penetração. Gotas muito finas e finas por outro lado, propiciam maior cobertura do alvo, mas tendem a apresentar maior deriva (Agronômico, 2014).
Gotas menores que 100 µm são passíveis de perda por evaporação em condições de umidade relativa do ar baixa e por deriva, quando são arrastadas facilmente pelo vento no sentido contrário ao da cultura. Contudo, promovem maior cobertura das plantas. Por outro lado, gotas muito grandes são mais pesadas, o que dificulta o alcance do alvo sob condições mais adensadas de cultivo, além disso, apresentam menor superfície de contato, o que reduz a cobertura da superfície das plantas (Pereira; Moura; Pinheiro, 2015).
Figura 1. Influência do tamanho das gotas no recobrimento foliar.
Além da capacidade de cobertura, o tamanho da gora também influencia no comportamento da gota sob diferentes condições ambientais. Conforme destacado por Contiero; Biffe; Catapan (2018), o tamanho da gota pode influenciar no tempo de extinção dela, bem como em sua evaporação. À medida que a água vai evaporando, as gotas diminuem de peso e, portanto, a possibilidade de impacto dessa gota no alvo desejado é reduzida. Gotas de mesmo tamanho podem ter comportamentos diferentes, sob diferentes condições ambientais (Tabela 2). Logo, observar as condições de temperatura e de umidade relativa é muito importante para uma aplicação correta (Contiero; Biffe; Catapan, 2018).
Tabela 2. Comportamento de gotas de diversos tamanhos, em diferentes condições ambientais.
Vale destacar que há dois tipos de deriva se tratando da tecnologia de aplicação de defensivos agrícolas. A deriva positiva, em que as gotas são arrastadas pelo vento no sentido da cultura, e a deriva negativa, onde as gotas são arrastadas pelo vento no sentido contrário à cultura. Sobretudo, pensando em uma aplicação eficiente, é necessário analisar as condições ambienteis e definir o tamanho e densidade de gotas.
Além de variar em função do produto aplicado, a classe de gotas de pulverização pode variar em função das condições ambientais, sendo que, algumas condições não são favoráveis à aplicação de determinados tamanhos de gotas, resultando em significativas perdas por deriva e evaporação. Sendo assim, as condições ambientais também devem ser analisadas ao definir o tamanho de gotas, principalmente se tratando da temperatura média e umidade relativa do ar.
Tabela 3. Uso de diferentes tamanhos de gotas, conforme as condições ambientais.
Conforme recomendações de manejo, para aplicações de fungicidas, inseticidas e acaricidas de contato, recomenda-se o emprego de gotas finas, proporcionando maior cobertura da superfície foliar. Pensando no uso de fungicidas, inseticidas e acaricidas sistêmicos, recomenda-se o emprego de gotas finas ou médias, visto que não é necessária a plena cobertura da superfície das plantas, contribuindo assim, para a redução de perdas por deriva e evaporação (Pereira; Moura; Pinheiro, 2015).
Conforme destacado por Pereira; Moura; Pinheiro (2015), gotas médias são recomendadas para o uso de herbicidas, sendo que, na aplicação de pré-emergentes, gotas grossas são melhor empregadas. Em algumas situações, dependendo da mobilidade do herbicida na planta (translocação apossimplástica), também é possível utilizar gotas grossas para aplicação de herbicidas em pós-emergência.
No geral, gotas finas são recomendadas para a pulverização de inseticidas, fungicidas e acaricidas de contato, gotas finas a médias para os mesmos grupos de produtos sistêmicos, e grossas médias a grossas para a pulverização de herbicidas (Tabela 4). Vale destacar que essa recomendação pode variar em função da formulação do defensivo, orientações técnicas e condições ambientais, sendo necessário atentar para as recomendações da bula.
Tabela 4. Parâmetros de densidade de gotas recomendadas para a aplicação de agrotóxico.
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Referências:
AGRONÔMICO. TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO DE DEFENSIVOS AGRÍCOLAS. Informativo de desenvolvimento tecnológico, ano 3, número 9, 2014. Disponível em: < http://www.roundupreadyplus.com.br/site/wp-content/themes/rrplus/assets/boletins/boletim_12.pdf >, acesso em: 22/01/2024.
CONTIERO, R. L.; BIFFE, D. F.; CATAPAN, V. TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO. Hortaliças-fruto, 2018. Disponível em: < https://books.scielo.org/id/bv3jx/pdf/brandao-9786586383010-15.pdf >, acesso em: 22/01/2024.
FRAZON, J. F.; CORSO, N. M. APLICAÇÃO DE AGROTÓXICOS: TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO. SENAR, PR, 2013> Disponível em: < https://www.sistemafaep.org.br/wp-content/uploads/2021/11/PR.0291-Agrotoxicos-Tecnologia-Aplicacao_web.pdf >, acesso em: 22/01/2024.
PEREIRA, R. B.; MOURA, A. P.; PINHEIRO, J. B. TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO DE AGROTÓXICOS EM CULTIVO PROTEGIDO DE TOMATE E PIMENTÃO. Embrapa, Circular Técnica, n. 144, 2015. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1024615/tecnologia-de-aplicacao-de-agrotoxicos-em-cultivo-protegido-de-tomate-e-pimentao >, acesso em: 22/01/2024.