O professor sênior de Agronegócio Global do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), Marcos Jank, projetou que, assim como aconteceu com o milho, que até pouco tempo o Brasil importava, o trigo pode ser “tropicalizado”. A tropicalização é um termo utilizado pelo pesquisador para descrever o processo de cultivo de produto agrícola, não típico para o Hemisfério Sul, em virtude de condições climáticas.
“Apesar da concentração do cultivo na região Sul, o trigo pode ser tropicalizado assim como a soja e o milho. O trigo é o principal produto agrícola que importamos, mas temos potencial de transformação da cadeia, que é possível como ocorreu com o milho”, disse Jank, em palestra no 26º Congresso Internacional da Indústria do Trigo, em Campinas (SP).
Jank disse ainda que os maiores desafios do agronegócio brasileiro atualmente são acesso a mercados e imagem no exterior. “Temos duas questões importantes. Nesse momento, o Brasil está sendo visto como vilão do meio ambiente, não por fatos, mas por percepções. Por outro lado, precisamos diversificar a pauta de exportação do agro brasileiro e exportar produtos de maior valor agregado.”
Na avaliação de Jank, que também é professor da Esalq, os produtos que mais crescem na pauta brasileira de exportação são os que tem menor dependência do governo, como algodão, soja e milho. “Etanol, que depende de política pública, e carnes, que dependem de
habilitações, têm crescimento muito modesto em virtude da dependência do Estado”, observou Jank.
Já o presidente interino da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Celso Moretti disse que o plantio de trigo em áreas antes não exploradas em virtude de condições desfavoráveis ao desenvolvimento do cereal, como o Cerrado e o Triângulo Mineiro, já é realidade no Brasil graças a pesquisas científicas.
“Com tecnologia e com melhoramento genético, estamos levando o cultivo de trigo para regiões antes nunca vistas e alcançando produtividades excelentes. No Centro-Oeste, temos áreas produzindo cerca de oito toneladas por hectare”, afirmou Moretti, durante abertura do 26o Congresso Internacional da Indústria do Trigo, em Campinas (SP).
Moretti destacou que a integração entre pesquisa científica e esforços do setor privado, por meio da indústria moageira nacional, vem permitindo a descentralização do plantio do cereal, antes restrito a algumas áreas das regiões Sul e Sudeste.
A T&F sempre defendeu que (vide nosso artigo no Informe Semanal da BCR, no 1697, de 27/02/2015 sobre “Posibilidades de expansión de la producción de trigo de Brasil” e nossa palestra no Forum do Trigo, da Expodireto, de 2017, em Não-me-Toque-RS):
- O futuro do trigo no Brasil está no Centro-Oeste, que transformará o país de grande importador em forte exportador mundial, porque terá trigo com qualidade altamente competitiva, quantidade regular e preços idem;
- Somente a exportação, assim como aconteceu com o milho, a soja e o café, permitirá ao país dar um salto horizontal de qualidade, de fluxo e de preço aos produtores, industriais e consumidores brasileiros neste importante segmento do agronegócio brasileiro. Para isto precisa de duas características: regularidade no fornecimento de produtos de boa qualidade e quantidade abundante.
Fonte: T&F Agroeconômica