Especialmente na região Sul do Brasil o sistema de integração lavoura-pecuária é comumente encontrado em propriedades que cultivam arroz irrigado no período do verão e utilizam a área no período inverno/primavera para pastejo animal. Entretanto, a necessidade de reduzir os custos de produção do arroz e o aumento da sustentabilidade do cultivo tornam necessários o estabelecimento de culturas de inverno que possibilitem além de quantidade e qualidade de forragem necessária aos animais, efeito residual benéfico para a cultura do arroz e/ou cultura sucessora.
Contudo, solos hidromórficos (terras baixas) impõe certas restrições ao cultivo de inverno, uma vez que a elevada umidade nesses solos dificulta a sobrevivência de plantas sensíveis ao excesso hídrico. A introdução de forrageiras nesse período é essencial para garantir o aporte de forragem adequado ao pastejo animal, possibilitando a integração lavoura-pecuária com o cultivo do arroz irrigado.
Embora a escolha da forrageira torne-se uma tarefa difícil, pois necessita oferecer quantidade e qualidade de forragem, mas ao mesmo tempo resistência ao cultivo em solos hidromórficos, existem algumas espécies de possível inserção nesse sistema, sendo uma delas, o trevo-persa.
Segundo Costa et al. (2005), o trevo-persa (Trifolium resupinatum L) é uma espécie forrageira de duplo propósito capaz de produzir matéria seca para forragem e ainda servir como cobertura morta para o sistema plantio direto. Em média, a produção de matéria seca do trevo-persa pode variar de 2,7 a 5,9 t.ha-1.ano-1.
Embora num primeiro momento pareça uma produção modesta de matéria seca, Bortolini; Mittelmann; Da Silva (2012) destacam que o trevo-persa é uma forrageira promissora para cultivo em solos hidromórficos. Além disso, o trevo-persa apresenta um excelente valor nutritivo quando comparado a outras forrageiras (tabela 1).
Tabela 1. Fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), proteína bruta (PB), nitrogênio não proteico (NNP), nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA), carboidrato solúvel (CS) e energia metabolizável (EM) de leguminosas forrageiras. Austrália, 2004, (Bortolini; Mittelmann; Da Silva, 2012).
Figura 1. Trevo-persa.
Segundo Sganzerla et al. (2015), a elevada produção de sementes duras na maturidade fisiológica do trevo-persa torna possível a regeneração da pastagem no segundo e terceiro anos após sua implantação. Fato que torna o trevo-persa uma alternativa um tanto quanto interessante do ponto de vista do custo de produção.
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Embora o trevo-persa apresente elevada qualidade forrageira, deve-se atentar para os valores nutritivos, a fim de evitar distúrbios alimentares nos animais. Para tal, pode-se utilizar misturas de forrageiras, ou até mesmo cultivar o trevo em consorcio a outras espécies, tais como gramíneas adaptadas ao ambiente de cultivo. Outra característica do trevo-persa, é que por se tratar de uma leguminosa (Fabeceae) a planta apresenta potencial de fixação biológica de Nitrogênio, sendo uma interessante fonte alternativa do nutriente para a cultura sucessora.
De acordo com Bortolini; Mittelmann; Da Silva (2012), o nitrogênio fixado pela planta pode variar de 19 a 28% do total acumulado pela cultura do arroz. Avaliando o impacto do trevo-persa no aumento da eficiência da adubação nitrogenada no cultivo de arroz-irrigado em sucessão, Dos Santos et al. (2019) observaram que quando comparado a vegetação espontânea, o trevo-persa apresenta superior teor de Nitrogênio na parte aérea da planta, o que demonstra a possível contribuição da leguminosa no fornecimento de nitrogênio para a cultura sucessora.
Figura 2. Teor de N na parte aérea em diferentes coberturas do solo (trevo persa e vegetação espontânea).
Embora Dos Santos et al. (2019) não tenham observado interação entre tipo de cobertura (cobertura espontânea e trevo-persa) e doses de nitrogênio aplicado no arroz, Assmann et al. (2007), avaliando a fixação biológica por plantas de trevo em sistema de integração lavoura-pecuária no Sul do Brasil, observaram que em média, o trevo contribui com o sistema com cerca de 90 kg.ha-1 de nitrogênio, se mostrando uma interessante fonte do nutriente para o sistema.
Tendo em vista a contribuição do trevo-persa e sua possibilidade de cultivo em solos hidromórficos, pode-se dizer que ele é uma importante cultura para a inserção no sistema de integração lavoura-pecuária e diversificação de culturas, aliando qualidade forrageira à contribuição na fertilidade do solo para a cultura sucessora, trazendo bons resultados, principalmente quando cultivado anteriormente a culturas responsivas ao nitrogênio.
Referências:
ASSMANN, T . S. et al. FIXAÇÃO BIOLÓGICA DE NITROGÊNIO POR PLANTAS DE TREVO (Trifolium spp) EM SISTEMA DE INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA NO SUL DO BRASIL. R. Bras. Zootec., v.36, n.5, p.1435-1442, 2007. Disponível em: < https://www.scielo.br/pdf/rbz/v36n5/29.pdf >, acesso em: 17/11/2020.
BORTOLINI, F.; MITTELMANN, A.; DA SILVA, J. L. S. BRS RESTEVEIRO
COSTA, N. L. et al. TREVO-PERSA – UMA FORRAGEIRA DE DUPLO PROPÓSITO. Embrapa, Comunicado Técnico, n. 166, 2005. Disponível em: < https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/745287/trevo-persa—uma-forrageira-de-duplo-proposito >, acesso em: 17/11/2020.
DOS SANTOS, R. N. et al. IMPACTO DA LEGUMINOSA TREVO-PERSA NO AUMENTO DA EFICIÊNCIA DA ADUBAÇÃO NITROGENADA NO CULTIVO DE ARROZ IRRIGADO EM SUCESSÃO. XI Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado, 2019. Disponível em: < https://www.researchgate.net/publication/335365193_IMPACTO_DA_LEGUMINOSA_TREVO-PERSA_NO_AUMENTO_DA_EFICIENCIA_DA_ADUBACAO_NITROGENADA_NO_CULTIVO_DE_ARROZ_IRRIGADO_EM_SUCESSAO >, acesso em: 17/11/2020.
NOVA CULTIVAR DE INVERNO PARA SOLOS HIDROMÓRFICOS. Embrapa, Comunicado Técnico, n. 291, 2012. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/79241/1/Comunicado-291.pdf >, acesso em: 17/11/2020.
SGANZERLA, D. C. et al. CARACTERÍSTICAS PRODUTIVAS DA CONSORCIAÇÃO DE TREVO-PERSA E AZEVÉM SUBMETIDOS A PASTEJO. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.67, n.1, p.173-180, 2015. Disponível em: < https://www.scielo.br/pdf/abmvz/v67n1/0102-0935-abmvz-67-01-00173.pdf >, acesso em: 17/11/2020.
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