Todo o setor do trigo é surpreendido pelo aparecimento incomum de sintomas de doenças foliares e espinhos em vários genótipos, mesmo após aplicações de fungicidas baseados em misturas de diferentes princípios ativos.
Em vários lugares como Pergamino, Venado Tuerto, Bigand, San Pedro, Chacabuco, Chivilcoy, América, Mar del Sud, General Madariaga, Gral Alvarado só para citar alguns, o aparecimento de manchas foliares, mesmo depois de 1-2 aplicações de fungicidas era um denominador comum. Essa “ineficiência” tem sido observada desde alguns anos atrás, onde os produtores relataram falhas de controle.
Para esclarecer a etiologia das manchas e a possível perda de sensibilidade dos patógenos envolvidos nos fungicidas, procedeu-se a amostragem de plantas representativas de cada lote suspeito. Numerosas técnicas de desinfecção e incubação foram realizadas. Os resultados mostraram a esporulação de D. tritici-repentis em sintomas típicos de MA.
Em algumas amostras foi evidenciada a coexistência da mancha em glumas e nó, causada por Septoria nodorum (Parastagonospora nodorum).
Como resultado dos isolados, foram obtidos 91 isolados dos seguintes localidades na província de Buenos Aires: Chacabuco, Chivilcoy, San Pedro, Pergamino Blue Hill (Gral La Madrid.) Mar del Sud (Gral Alvarado), e Geral Madariaga.
De acordo com as características morfológicas, pode-se concluir que a grande maioria delas correspondeu às características morfológicas típicas descritas em estudos anteriores para D. tritici-repentis (Ellis, 1971).
Para obter ainda mais certeza na confirmação da espécie, os seguintes genes foram sequenciados: ITS, gpd, primer específico para Pyrenophora teres f sp maculata (Ptm), toxina A (toxA) e toxina B (toxB).
Com as sequências ITS e gpd, foi realizada uma análise filogenética de acordo com Zhang et al. (2001). Os resultados mostram que todos os isolados testados foram agrupados no clado, que inclui D. tritici-repentis. Todos os isolados apresentaram reação negativa de PCR ao primeiro específico para Ptm.
Conclui-se que todos os isolados testados correspondem à espécie D. tritici-repentis e todos são produtores de toxina A, mas nenhum possui o gene da toxina B.
Confirmação de resistência
Para avaliar a sensibilidade aos fungicidas, realizou-se um teste exploratório para discriminar rapidamente e como primeiro passo, entre linhagens resistentes e sensíveis. 91 isolados foram submetidos a 100 ug mL-1 em QV (inibidores de quinona da molécula externo) mais frequentemente utilizado na Argentina (azoxistrobina, piraclostrobina e trifloxistrobina; 98%) de degradação técnica para quantificar a inibição do crescimento micelial.
A maioria (90%) dos isolados cresceu a 100 µg mL-1, mostrando grande variabilidade entre linhagens e moléculas de Qol. Vale ressaltar que a dose de 100 µg mL-1 é uma dose extremamente alta que permite separar rapidamente as cepas resistentes das cepas sensíveis.
Para determinar a presença ou ausência de mutações associadas à resistência às estrobilurinas, o gene cytb foi sequenciado nos 91 isolados em estudo. O estudo molecular mostrou que todos os isolados eram portadores da mutação G143A, o que confere forte resistência às estrobilurinas em geral.
Para avaliar a sensibilidade dos inibidores de desmetilação do IDM (triazóis, 98% de grau técnico), utilizou-se a mesma metodologia de inibição do crescimento micelial, mas utilizando uma dose discriminatória de 60 µg mL-1.
Neste caso, o crescimento de vários isolados foi observado na presença de algumas moléculas triazólicas indicando resistência, enquanto outros princípios ativos inibiram o crescimento em 100% em todos os isolados.

Esta dose de 60 µg mL-1 é suficiente para discriminar as estirpes quando os triazóis são avaliados. Como a resistência aos azólicos é um processo mais complexo no qual diferentes mecanismos moleculares podem intervir, este trabalho ainda está em estudo.
Este é o primeiro relato na América do Sul da confirmação da presença da mutação G143A no gene cytb de populações de D. tritici-repentis. Da mesma forma, foram detectadas cepas resistentes a alguns triazóis, cujo estudo molecular ainda está em andamento.
Este trabalho faz parte do Projeto UBACYT 20020170100147BA e foi parcialmente subsidiado pela BASF Argentina SA.
Autores: Francisco Sautua e Marcelo Carmona, fitopatologistas da Faculdade de Agronomia da UBA (Fauba).
Fonte: Adaptado de La Nacion