A competição por espaço, luz e nutrientes representa a forma mais frequente de interferência direta que as plantas daninhas exercem sobre as culturas agrícolas. Por outro lado, a competição indireta ocorre através da alelopatia, aumento do custo de produção, depreciação da qualidade do produto, problemas relacionados à operação de colheita, entre outros, além disso, as plantas daninhas podem servir como hospedeiras de pragas e doenças.
Ao longo dos anos, tem-se observado uma crescente dificuldade no controle de plantas daninhas nos sistemas produtivos de grãos. Esse fenômeno não se restringe apenas as culturas com uma grande diversidade de espécies invasoras, mas também afeta aquelas em que a presença de plantas daninhas costumava ser de mais fácil controle, como é o caso da cultura do trigo (Rizzardi, 2021).
Conforme observado por Mariani & Vargas (2012), em situações extremas, as plantas daninhas têm o potencial de reduzir o rendimento do trigo em mais de 80%. No entanto, é importante ressaltar que o impacto das plantas daninhas nas perdas de rendimento pode variar consideravelmente de acordo com diversos fatores. Essas perdas podem ser influenciadas pelas espécies de plantas daninhas presentes na lavoura, pela sua densidade populacional, pela duração da competição com a cultura do trigo e pelas condições ambientais predominantes.
Períodos de controle e convivência
Agostinetto et al. (2008) realizaram um estudo com o objetivo de determinar o período crítico de interferência das plantas daninhas na cultura do trigo, bem como os efeitos dessa competição em variáveis morfológicas e nos componentes da produtividade. Observou-se que, considerando um custo de controle químico de 5%, foram necessários 12 dias para que o trigo apresentasse perdas superiores aos custos de controle, período este denominado de Período Anterior à Interferência (PAI).
O Período Total de Prevenção da Interferência (PTPI), calculado pelo modelo utilizado, foi de 24 dias após a emergência (DAE). Portanto, o período em que as práticas de controle devem ser efetivamente adotadas, Período Crítico de Prevenção à Interferência (PCPI) foi determinado como sendo dos 12 aos 24 DAE. Os autores ressaltam que a identificação do PCPI tanto para o trigo quanto para outras culturas é fundamental para um manejo adequado das plantas daninhas, visando evitar perdas de produtividade e o uso desnecessário de herbicidas.
Figura 1. Definição dos períodos de controle e de convivência de plantas de azevém e nabo na cultura do trigo, com base na produtividade de grãos. CAP/UFPel, Capão do Leão – RS, 2006. 1 Período anterior à interferência; 2 Período crítico de prevenção da interferência; 3 Período total de prevenção da interferência.
Principais estratégias de manejo
A estratégia principal de controle químico na cultura do trigo, conforme destacado por Rizzardi (2021), envolve o uso de herbicidas pós-emergentes, aplicados seletivamente sobre a cultura. No entanto, essa abordagem tem perdido eficácia no controle de certas espécies de plantas daninhas, como azevém, buva e nabo, devido ao aumento de infestações e casos de resistência a herbicidas.
Diante desse cenário, torna-se necessária a implementação de outras estratégias, como o uso de herbicidas pré-emergentes. Esses produtos são aplicados antes da emergência tanto das plantas daninhas quanto das culturas, seguindo sistema como aplicação plante/aplique ou aplique/plante. Com ação residual no solo, os herbicidas pré-emergentes impedem em grande parte a germinação das sementes de plantas daninha, no banco de sementes do solo.
O autor ressalta que a utilização desses herbicidas é essencial para preservar o potencial produtivo do trigo, reduzindo a competição inicial causada pelas plantas daninhas e aumentando a eficácia no controle de biótipos resistentes aos herbicidas pós-emergentes.
Aspectos importantes no manejo
Porém, vale destacar que, de acordo com o Comitê de Ação à Resistência a Plantas Daninhas (HRAC-2024), ao utilizar herbicidas pré-emergentes, diversas propriedades devem ser levadas em consideração, incluindo suas características físico-químicas do solo e do produto utilizado, bem como e as condições ambientais específicas do local de aplicação. Aspectos como volatilidade, solubilidade em meio aquoso, sorção em argila e matéria orgânica, assim como o histórico de aplicação, são importantes na determinação do período residual e do efeito dos herbicidas pré-emergentes.
Além disso, fatores como umidade, temperatura, tipo de solo, teor de matéria orgânica, pH e textura do solo também exercem influência significativa. Em sistemas de produção conservacionista, como o plantio direto e o cultivo mínimo. A presença de resíduos culturais representa uma camada de complexidade adicional. Nesses cenários, ajustar a dose do herbicida residual é frequentemente necessário, devido à distribuição desigual desses resíduos ao longo da área de cultivo, os quais atuam como barreira física. Portanto, é fundamental ter cautela com a seletividade e o posicionamento do herbicida durante a aplicação (HRAC-BR, 2024).
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Referências:
AGOSTINETTO, D. et al. PERÍODO CRÍTICO DE COMPETIÇÃO DE PLANTAS DANINHAS COM A CULTURA DO TRIGO. Planta Daninha, v. 26, n. 2, p. 271-278. Viçosa – MG, 2008. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/pd/a/38w45d7PPbg7sJFKKJwCfQD/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 18/03/2024.
HRAC-BR. POTENCIAIS DIFICULDADES DO USO DOS HERBICIDAS PRÉ-EMERGENTES NO MANEJO DE RESISTÊNCIA. Comitê de Ação a Resistência aos Herbicidas, HRAC-BR, 2024. Disponível em: < https://www.hrac-br.org/post/potenciais-dificuldades-do-uso-dos-herbicidas-pr%C3%A9-emergentes-no-manejo-da-resist%C3%AAncia >, acesso em: 18/03/2024.
MARIANI, F.; VARGAS, L. MANEJO DE PLANTAS DANINHAS EM TRIGO. Revista Plantio Direto, Trigo, 2012. Disponível em: < https://www.plantiodireto.com.br/storage/files/128/5.pdf >, acesso em: 18/03/2024.
RIZZARDI, M. A. HERBICIDAS PRÉ-EMERGENTES EM TRIGO: UMA TENDÊNCIA QUE VEIO PARA FICAR. Up Herb, Academia das Plantas Daninhas, 2021. Disponível em: < https://upherb.com.br/int/herbicidas-pre-emergentes-em-trigo-uma-tendencia-que-veio-para-ficar >, acesso em: 18/03/2024.
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