Os sugadores são pragas com grande potencial de reduzir o produto final, pois injetam toxinas nos grãos, tornando-os chochos, escuros e pequenos.
Os percevejos são pragas que sugam a seiva da planta. Possuem habilidade de dispersão e são mais frequentes em culturas de ciclo tardio, pois se locomovem para lavouras que ainda não foram colhidas.
Hoje no texto vamos conversar sobre os principais percevejos, como eles se comportam, ciclo de vida e danos das pragas.
Percevejos da soja
O nível de controle para esses percevejos é de apenas 2 percevejos/m2 na fase reprodutiva da soja. Quando a lavoura é destinada para produção de sementes, o nível de ação é de apenas 1 percevejo/m2.
Percevejo-marrom (Euschistus heros)
Os ovos possuem coloração amarela. As ninfas são amarelas no início e escurecem posteriormente. O adulto é um sugador de coloração escura e com prolongamentos laterais do pronoto, denominados de espinhos.
Figura 1. Ovos (esquerda) e adulto (direita) do percevejo-marrom.
É o principal percevejo na cultura da soja em questão de abundância. Predominam na fase reprodutiva da cultura, incidindo na formação das flores e permanecendo até a maturação. Podem infestar lavouras de milho safrinha.
A praga possui a capacidade de sobreviver na entressafra da soja, por isso os manejos em períodos de inverno são essenciais para reduzir a infestação na lavoura de soja.
Fernandes (2017), relacionou a população de percevejos em diversos estágios da soja. Nota-se que na fase vegetativa os danos são pequenos. Contudo, nos estágios de formação de vagens (R4) e dos grãos (R5), o potencial da praga em reduzir a produtividade é extremamente alto.
A produtividade pode reduzir a valores de 2.000 kg/ha em uma população de 10 percevejos em momentos críticos da presença da praga.
Figura 2. Densidade populacional de E. heros e as perdas de produtividade.

As misturas de neonicotinoides + piretroides são muito utilizadas no combate ao percevejo. De acordo com Ávila, et al. (2019), os produtos que apresentam maior eficiência são thiametoxam + lambdacialorina, imidacloprido + bifentrina e imidacloprido + betaciflutrina.
Na Figura 3, observe que a maioria das aplicações de inseticidas são destinadas para o percevejo-marrom entre todas as principais pragas da soja.
Figura 3. Frequência de aplicações para as pragas da soja.

Percevejo-verde (Nezara viridula)
Os ovos apresentam coloração branca. As ninfas variam sua cor durante esta fase, iniciando laranjas, tornam-se pretas e por fim verdes com manchas rosadas e brancas nas extremidades e no centro do corpo. Este sugador apresenta o tamanho do corpo maior que os demais percevejos da soja. Possui coloração verde em todo o corpo quando adulto e antenas vermelhas.
Figura 4. Ninfas de 3° instar, 5° instar e adulto.
Note na Tabela 1, que o percevejo-verde não se apresenta com elevada abundância na soja. Apresenta-se mais concentrado na região sul do país, pois está mais adaptado a climas amenos.
Tabela 1. Frequência do percevejo-marrom e percevejo-verde em duas safras.

Apresenta preferência por leguminosas, como soja e feijão. No entanto, pode-se adaptar em plantas de arroz e algodão.
Veja também: Cultivares tolerantes a percevejos
Percevejo-verde-pequeno (Piezodorus guildinii)
Os ovos apresentam coloração preta. As ninfas variam de cor durante esta fase, iniciando com coloração preta e vermelha, tornando-se verdes com manchas vermelhas no centro do corpo. Quando adultos, tornam-se verde-claro com uma listra amarela próxima da região do pronoto.
Figura 5. Ninfas recém eclodidas junto aos ovos (esquerda) e ninfas de 3° e 5° instar (direita).
A praga apresenta tamanho inferior aos demais percevejos. No entanto, os danos causados por eles são os mais severos decorrente do modo de inserção e retirada dos estiletes.
Como visualizamos na Tabela 2, foi a praga que menos se alimentou. No entanto, por apresentar elevados graus de destruição dos tecidos, os danos são considerados mais severos devido a maior área do canal alimentar (não apresentando relação com o comprimento do estilete) (Panizzi et al., 2012).
Tabela 2. Profundidade de dano e consumo pelos percevejos.

Percevejos do milho
Percevejo-barriga-verde (Dichelops melacanthus e D. furcatus)
Possui a coloração marrom no corpo e verde na face inferior, por isso o nome popular barriga-verde.
Figura 6. Planta de milho (esquerda) e de trigo (direita) sofrendo ataque da praga.
Este percevejo é o mais importante na cultura do milho e do trigo. Incide na lavoura de soja no final do seu ciclo e aumenta a população na cultura do milho safrinha.
Observe na Figura 7, que a população atinge 2 percevejos/m2 no milho, ultrapassando o nível de dano econômico (momento em que a praga já é capaz de causar perdas de produtividade) considerado de 0,8 percevejos/m2 no início da fase vegetativa do milho (Duarte et al., 2015).
Figura 7. Flutuação populacional na cultura da soja e milho em sucessão.

Como observado na Figura 8, as ninfas médias e grandes já apresentam capacidade de causar injúrias iguais ou superiores aos adultos na cultura do milho. Por isso, não subestime os insetos de tamanho menor.
Figura 8. Notas de injúrias pelo percevejo Dichelops spp.

Sabe-se que o controle apenas com tratamento de sementes não é eficiente para manejar o percevejo. Assim, estratégias conjuntas do Manejo Integrado de Pragas (MIP) devem ser adotadas para erradicar a praga.
Em relação as pulverizações, misturas de lambda-cialotrina + tiametoxam atingiu valores superiores a 80% de controle. Acetamiprido + Bifentrina apresentaram valores semelhantes (Araújo, 2019).
Percevejos do arroz
Percevejo-das-panículas (Oebalus poecilus e O. ypsilongriseus)
São percevejos de coloração marrom e manchas amareladas no dorso do corpo, como visualizamos na Figura 9.
Figura 9. Percevejo adulto de Oebalus spp.
Quando tratamos da cultivar IRGA 429, notamos que as maiores populações se referem à espécie Oebalus spp. Os maiores danos ocorrem na fase reprodutiva, momento em que o grão está se formando. Além disso, Oebalus poecilus predomina entre todos os percevejos do arroz.
Figura 10. Flutuação populacional de percevejos do arroz na fase vegetativa e reprodutiva.

Quando verificamos os seus danos, observa-se que 2 percevejos causam uma redução de 32,7% no peso da panícula (Weber, 2018). Os percevejos são capazes de reduzir o peso das espiguetas, torná-las de coloração escura e formar espiguetas vazias.
Percevejo-do-colmo (Tibraca limbativentris)
Apresentam coloração marrom clara, como observamos na Figura 11.
Figura 11. Tibraca limbativentris.
São encontrados na região do colmo, próximos do solo e em locais onde a lâmina de água não atinge.
Na fase reprodutiva da cultura, os danos são mais severos (perdas de 80% da produção), pois ocorre abortamento da panícula, sintoma conhecido como panícula-branca.
Nota-se que a presença da praga é mais evidente no final do ciclo do arroz (Figura 10).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os percevejos são pragas sugadoras que injetam toxinas nas plantas e reduzem o potencial produtivo da cultura, afetando diretamente os grãos e depreciando a qualidade final do produto.
Os principais percevejos na soja são o marrom, verde, verde-pequeno e o barriga-verde. Este último é considerado o principal percevejo na cultura do milho. No arroz, os sugadores mais frequentes são o percevejo-das-panículas e do colmo.
Cada praga possui comportamento diferente e, por isso, o monitoramento é a primeira ferramenta de manejo que devemos realizar regularmente. Os percevejos possuem o hábito de subir para o dossel superior das plantas no início da manhã para se aquecerem, por isso, redobre os cuidados nestas situações em que podem estar mais expostos. Além disso, a fase reprodutiva é o momento crítico de seu ataque.
As ninfas das pragas (fase anterior aos adultos) já são capazes de causar injúrias semelhantes aos adultos. Por isso, é importante que você saiba identificar as ninfas a campo e relacionar corretamente com a sua espécie.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, A. A EFICÁCIA DE DIFERENTES MISTURAS INSETICIDAS DE NEONICOTINÓIDES E PERETRÓIDES NO CONTROLE DE PERCEVEJO BARRIGA VERDE (Dichelops spp.) NA CULTURA DO MILHO. 2019
ÁVILA, Crébio José; CAVALHEIRO, Bruna Mandryk; DA SILVA, Ivana Fernandes. Eficiência de inseticidas no controle de Euschistus heros (Hemiptera: Pentatomidae) na cultura da soja. In: Anais do Congresso Brasileiro de Fitossanidade. 2019.
CHIESA, Ana Carolina Montenegro et al. Tratamento de sementes para manejo do percevejo‑barriga‑verde na cultura de soja e milho em sucessão. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 51, n. 4, p. 301-308, 2016.
CONTE, et al. Resultados do manejo integrado de pragas da soja na safra 2018/19 no Paraná. Londrina. Embrapa Soja, 2019. (Embrapa Soja. Documentos, 416).
DUARTE, MARCELA MARCELINO; AVILA, CRÉBIO JOSÉ; SANTOS, VIVIANE. Danos e nível de dano econômico do percevejo barriga verde na cultura do milho. Embrapa Agropecuária Oeste-Artigo em periódico indexado (ALICE), 2015.
FERNANDES, Paulo Henrique Ramos et al. Danos e controle do percevejo marrom (Euschistus heros) em soja e do percevejo barriga-verde (Dichelops melacanthus) em milho. 2017.
PANIZZI, Antônio Ricardo; BUENO, A. de F.; SILVA, FAC da. Insetos que atacam vagens e grãos. Soja: manejo integrado de insetos e outros artrópodes-praga. Brasília: Embrapa, p. 335-420, 2012.
TELLES, Aline Mara dos Santos et al. O uso de modelos matemáticos como ferramenta para avaliar a distribuição espacial de insetos-praga da cultura da soja no estado do Paraná. 2017. Dissertação de Mestrado. Universidade Tecnológica Federal do Paraná.
WEBER, Nelson Cristiano. Danos de Oebalus poecilus (Hemiptera: Pentatomidae) e ocorrência de herbívoros e parasitoides em arroz irrigado. 2018.
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Redação: Equipe Mais Soja.