A cultura do trigo assume um importante papel na rotação de culturas com a soja, possibilitando a rotação de mecanismos de ação de inseticidas e herbicidas, e quebrando o ciclo de desenvolvimento de diversas praga e patógenos, além de possibilitar o manejo de plantas daninhas de difícil controle na soja. Entretanto, para que a cultura também apresente relevância econômico, práticas de manejo adequadas devem ser adotadas no cultivo do trigo, para a obtenção de boas produtividades.
Uma dessas práticas é a adubação, em especial a adubação nitrogenada. O nitrogênio (N) é o nutriente mais requerido pela cultura do trigo, e exerce funções bioquímicas essenciais para o crescimento e desenvolvimento vegetal, atuando como constituinte de aminoácidos, amidas, proteínas, ácidos nucleicos, nucleotídeos, coenzimas, hexosaminas, entre outros (Taiz et al., 2017).
Conforme destacado por Wiethölter (2011), a produtividade do trigo esta intimamente relacionada ao aporte nutricional da cultura, sendo que respostas positivas de produtividade são obtidas com o fornecimento de nitrogênio ao trigo (figura 1). Embora parcialmente seja possível encontrar nitrogênio no solo e em resíduos vegetais mineralizados, normalmente a quantidade encontrada não é suficiente para suprir todas as exigências de Nitrogênio para a obtenção de altas produtividades de trigo, sendo necessário realizar a adubação nitrogenada na cultura.
Figura 1. Rendimento de trigo em função da aplicação de N – equação média de 32 experimentos, RS.
Visando possibilitar um bom crescimento inicial da cultura do trigo, em termos práticos é possível realizar parcialmente a adunação nitrogenada na semeadura do trigo, entretanto, buscando reduzir perdas de N por lixiviação e volatilização, normalmente se aconselha que a quantidade ofertada do nutriente nesse momento não seja superior a 20 kg ha-1. No início do desenvolvimento do trigo, as plantas ainda possuem um limitado sistema radicular e capacidade fotossintética, o que dificulta a absorção de grandes quantidades de nitrogênio.
A quantidade restante do nutriente deve ser ofertada em cobertura da cultura, podendo ser parcelada ou não, dependendo da quantidade a ser fornecida, finalidade do cultivo e limitações operacionais.
Quando aplicar o nitrogênio em cobertura no trigo? Parcelar ou não?
A necessidade de parcelamento da adubação nitrogenada de cobertura irá depender na quantidade de fertilizante a ser fornecido, objetivos almejados e capacidade operacional. Pelo Nitrogênio ser facilmente perdido por volatilização e lixiviação no solo, o ideal é evitar a adição de grandes quantidades de Nitrogênio de uma só vez, podendo assim, realizar o parcelamento da adubação nitrogenada.
Segundo De Bona; De Mori; Wiethölter (2016), quando necessário o fracionamento da dose de N, a primeira parcela deve ser fornecida no afilhamento (ou perfilhamento) da cultura, e a segunda parcela no alongamento do colmo. A disponibilidade de N no início do afilhamento (4° folha) define o número de espiguetas por espigas, e na fase final, (7° folha), determina o número de afilhos que formarão espigas férteis, ou seja, um dos principais componentes de produtividade do trigo, a quantidade de espigas por unidade de área (De Bona; De Mori; Wiethölter, 2016).
De Bona; De Mori; Wiethölter (2016) ainda destacam que aplicações mais tardias de N, (no espigamento), tecnicamente não alteram o rendimento de grãos, mas podem aumentar o teor de Nitrogênio e proteínas nos grãos, melhorando a qualidade do trigo produzido, característica desejável com o objetivo da produção de farinha.
Figura 2. Manejo nutricional da cultura do trigo.
Quando não há a necessidade de parcelamento da adubação, essa pode ser realizada inteiramente no afilhamento. Cabe destacar que se tratando de altas doses de nitrogênio, mesmo realizado o parcelamento da adubação nitrogenada, algumas cultivares podem apresentar elevada elongação, resultando inclusive no acamamento das plantas.
Nesses casos, conhecer a susceptibilidade da cultivar ao acamamento é essencial para definir práticas de manejo que possibilitem mitigar esse efeito, a exemplo do uso de redutores/reguladores de crescimento. Entretanto, essa é uma prática que requer maior cautela e planejamento para não interferir no potencial produtivo da cultura. Consulte um(a) Engenheiro(a) Agrônomo(a) de sua confiança.
Veja mais: Uso de Regulador de Crescimento na Cultura do Trigo
Referências:
DE BONA, F. D.; DE MORI, C.; WIETHÖLTER, S. MANEJO NUTRICIONAL DA CULTURA DO TRIGO. IPNI, Informações Agronômicas, n. 154, 2016. Disponível em: < http://www.ipni.net/publication/ia-brasil.nsf/0/47520FE3CAA3AEF183257FE70048CC16/$FILE/Page1-16-154.pdf >, acesso em: 01/04/2022.
TAIZ, L. et al. FISIOLOGIA E DESENVOLVIMENTO VEGETAL. Porto Alegre, ed. 6, 2017.
WIETHÖLTER, S. FERTILIDADE DO SOLO E A CULTURA DO TRIGO NO BRASIL. Trigo no Brasil: bases para produção competitiva e sustentável. Cap. 6, p. 135-184. Passo Fundo: Embrapa Trigo, 2011.Disponível em: < https://www.embrapa.br/documents/1355291/11341263/Fertilidade+do+solo+e+a+cultura+do+trigo+no+Brasil.pdf/b43f6a5b-747b-495c-a796-3bdb70897d9e?version=1.0 >, acesso em: 01/04/2022.