Autor: Dr. Argemiro Luís Brum
As cotações do trigo, em Chicago, apresentaram um recuo importante, puxado pela possibilidade de um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia. Mesmo que o fato não tenha se confirmado, as cotações se mantiveram em baixa após o anúncio dos resultados de intenção de plantio e estoques trimestrais. Assim, o bushel de trigo, para o primeiro mês cotado, fechou o dia 31/03 em US$ 10,06, contra US$ 10,85 uma semana antes.
O relatório de intenção de plantio apontou um aumento de 1% na área geral de trigo a ser cultivada nos EUA neste ano, passando a mesma para 19,2 milhões de hectares. Já os estoques trimestrais, na posição 1º de março, recuaram 22% sobre o mesmo período de 2021, ficando em 27,8 milhões de toneladas, situação já esperada. Dito isso, os embarques estadunidenses de trigo, na semana encerrada em 24/03, ficaram em 341.191 toneladas, superando de pouco o limite mínimo esperado pelo mercado. Em todo o atual ano comercial os EUA exportaram 16,9 milhões de toneladas, ou seja, 17% a menos do que em igual período do ano anterior.
Destaque para o fato de que a Rússia manteve estáveis as exportações de trigo por meio de seus portos do Mar Negro, na semana passada, enquanto as rotas do Mar de Azov permanecem restritas. Enquanto isso, os preços do grão, no mercado russo, continuaram subindo devido ao recente enfraquecimento do rublo. As sanções ocidentais impostas à Rússia complicaram a logística comercial e as transações em bancos estrangeiros para muitas empresas russas nas últimas quatro semanas. (cf. Reuters)
Segundo as consultorias russas IKAR e Sovecon, os preços do trigo com 12,5% de teor de proteína, dos portos do Mar Negro, estavam sendo avaliados em cerca de US$ 390,00/tonelada livre a bordo (FOB).
Por sua vez, o Ministério da Agricultura ucraniano estima que a área plantada com trigo na Ucrânia possa ser reduzida de 30% a 50% em relação ao ano passado, sendo que o início do plantio de primavera por lá sofre por conta da guerra, já que há agricultores na linha de frente do confronto, além de haver completa insegurança para que os trabalhos de campo sejam realizados.
No Brasil, os preços do trigo igualmente recuaram. O balcão gaúcho fechou a semana na média de R$ 94,60/saco, enquanto no Paraná os preços giraram entre R$ 94,00 e R$ 102,00/saco.
Este recuo se deve a forte valorização do Real nos últimos dias, fato que torna mais baratas as importações. Mesmo assim, as médias de março atingiram recordes nominais no mercado nacional. Pelo sim ou pelo não, o fato é que o mercado do trigo está muito volátil. A tendência é de um aumento na área a ser semeada com o produto neste ano, porém, o mesmo dependerá muito da elevação do custo de produção. O fato é que a oferta de trigo no país já se mostra um pouco mais limitada. Em Rio Grande a falta de espaço ajuda na manutenção de patamares ainda elevados de preços para o produto brasileiro. Assim, apesar do recuo, os preços seguem atrativos no porto, com a referência ficando na casa de R$ 1.920,00/tonelada (R$ 115,20/saco) do cereal posto moinho.
É sempre bom lembrar que a nova safra de trigo no Brasil chega apenas em setembro, via o Paraná, fato que, até lá, pode elevar novamente os preços para níveis históricos. Para o Rio Grande do Sul existem expectativas de um plantio sobre 1,5 milhão de hectares, fato que, em clima normal, pode gerar uma produção entre 4,5 a 5 milhões de toneladas. Porém, os custos de produção elevados podem ser o grande limitador desta tendência.
Por sua vez, a Embrapa tem planos de aumentar a área com trigo no Cerrado brasileiro, fazendo a mesma chegar a 353.000 hectares até 2025, gerando uma produção extra de 300.000 toneladas. Em 2021, a produção brasileira de trigo chegou a 7,7 milhões de toneladas, com importação de outros 6,2 milhões. Mais de 80% da produção vem do Rio Grande do Sul e Paraná, mas o plantio avança também no Cerrado, onde a produtividade do trigo irrigado chega a ser três vezes maior que a do grão gaúcho.
Atualmente, 40% da área de plantio no Cerrado é irrigada, mas o plano técnico da Embrapa é elevar em 75 mil hectares o cultivo de sequeiro, que rende menos, mas tem custo de produção menor e menos competição por terras com feijão e outros produtos. A Embrapa desenvolve cultivares de trigo resistentes à seca e ao calor na região desde a década de 1980. O trabalho será coordenado pela empresa de pesquisa pública, mas terá a participação da indústria moageira, cooperativas, extensão rural, associações de produtores e federações da agricultura, além de lideranças regionais.
Em termos gerais, em havendo aumento de área semeada e o clima ajudando não se descarta uma produção nacional de trigo, em 2022, entre 8 e 9 milhões de toneladas. (cf. TF Agronômica)
Quer saber mais sobre a Ceema/Unijui? Clique na imagem e confira.
Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).