Os nematoides fitopatogênicos vem ganhando espaço em lavouras produtoras de grãos e podem ser considerados pragas de difícil controle e manejo por serem encontrados no solo e possuir elevada capacidade reprodutiva. Um desses nematoides é o nematoide-do-cisto (Heterodera glycines), praga que em 2003 já infestava mais de 3 milhões de hectares de solos brasileiros (Sharma; Moreira; Alves, 2003).

Conforme destacado por Grigolli & Grigolli (2018), a soja é a principal cultura hospedeira do nematoide-do-cisto, praga que em condições de campo pode dar origem de três a seis gerações por ano, sendo que a temperatura ideal para o desenvolvimento do nematoide-do-cisto varia entre 23 a 28°C. O nematoide-do-cisto da soja penetra nas raízes da planta de soja e dificulta a absorção de água e nutrientes, resultando em plantas de porte reduzido e cloróticas. Os sintomas aparecem em reboleiras, geralmente, próximo de estradas ou carreadores, em casos mais severos pode causar a morte das plantas. (Grigolli & Grigolli, 2018).

O controle do nematoide-do-cisto (Heterodera glycines), assim como o controle dos demais nematoides, é extremamente difícil, podendo ser utilizadas práticas de manejo como rotação de culturas, uso de plantas de cobertura com potencial em reduzir populações de nematoides, uso de cultivares/variedades tolerantes ou resistentes, assim como a utilização de nematicidas, entre outros. Contudo, embora não tão empregado quando o controle químico, o controle biológico especialmente utilizando isolados de Bacillus spp. vem ganhando espaço mostrando-se uma interessante ferramenta no manejo e controle de nematoides fitopatogênicos.

Conforme avaliado por Araújo; Silva; Araújo (2002), uma das espécies de Bacillus com potencial uso redução de populações e controle de nematoide-do-cisto é o Bacillus subtilis. Para compor o estudo os autores realizaram alguns experimentos em casa de vegetação e laboratório. Araújo; Silva; Araujo (2002) utilizaram o estirpe AP-3 de Bacillus subtilis, e os tratamentos avaliados pelos autores consistiram na utilização de sementes de soja cv. BR-37 tratadas com a formulação PM (pó-molhável) contendo B. subtilis nas dosagens de 1000g e 500g para 50kg de semente, seguindo-se a semeadura nos vasos (uma semente/vaso).



Outro tratamento foi conduzido com adição da calda bacteriana diretamente no solo 30 minutos antes da semeadura, nesse caso foi determinada uma concentração em torno de 1,0.108 células/g de solo. Após onze dias da semeadura foram introduzidos ovos de nematóide (Heterodera glycines), na concentração de 4.000 ovos/vaso (Araújo; Silva; Araújo, 2002).

Com base nos resultados observados por Araújo; Silva; Araújo (2002), para o presente estudo e condições avaliadas, verificou-se que a nível de laboratório a presença de B. subtilis reduz a eclosão de ovos de H. glycines. Além disso, o tratamento de raiz de soja com a bactéria inibiu a migração de larvas juvenis de H. glycines para a planta em comparação à raiz não tratada. Já nos ensaios de casa de vegetação utilizando vasos, os autores observaram redução de fêmeas na raiz de soja quando o solo ou sementes foram tratadas previamente com formulação pó-molhável ou calda contendo B. subtilis (Araújo; Silva; Araújo, 2002).

Figura 1. – Influência de B. subtilis aplicado em tratamento de solo ou de semente na incidência de cistos de H. glycines na rizosfera de soja, em plantas com 62 dias de idade.

Colunas com mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey.
Fonte: Araújo; Silva; Araújo (2002)

Embora os autores não tenham atribuído efeito direto biocontrolador do B. subtilis sobre o nematoide-do-cisto, com base nesses resultados e sabendo que H. glycines apresenta dependência de estímulo de exsudatos vegetais para eclosão e orientação das larvas, pode-se afirmar que B. subtilis interfere nesse estímulo prejudicando o desenvolvimento do ciclo do nematoide (Araújo; Silva; Araújo, 2002).

 

Além desses autores, efeitos benéficos da utilização de B. subtilis também foram observados por Bavaresco & Araujo (2017), entretanto, nesse estudo os autores avaliaram a eficiência de controle do B. subtilis sobre o nematoide-das-galhas (Meloidogyne spp.) na cultura do tomateiro. Os resultados obtidos por eles demonstraram que a aplicação do B. subtilis proporcionou efeito significativo para o crescimento do sistema radicular e redução de nematoides das galhas nas raízes do tomateiro, enfatizando a importância desse microrganismo no controle biológicos de nematoides.

Com base nos trabalhos e resultados apresentados anteriormente, é possível afirmar o que uso de B. subtilis é uma promissora e valiosa ferramenta para o controle de nematoides em lavouras comerciais, além disso, a facilidade de utilização desse microrganismo (tratamento de sementes ou no sulco de semeadura) torna o B. subtilis uma ferramental de alta viabilidade para uso em conjunto com outras práticas de manejo no controle de nematoides de áreas infestadas, reduzindo população da praga.


Veja mais:  Soja após Crotalária – aumento da produtividade e controle de nematoides


Foto de capa: TMG – Lavoura afetada com nematoide do cista na soja

Referências:

ARAÚJO, F. F. ; SILVA, J. F. V.; ARAÚJO, A. S. F. INFLUÊNCIA DE BACILLUS SUBTILIS NA ECLOSÃO, ORIENTAÇÃO E INFECÇÃO DE Heterodera glycines EM SOJA. Ciência Rural, v. 32, n. 2, 2002. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/cr/a/7rcT8Hdw3bwh5qmZsVmyw6y/?lang=pt# >, acesso em: 14/06/2021.

BAVARESCO, L. G.; ARAUJO, F. F. APLICAÇÃO DE bacillus subtilis NO CONTROLE DE NEMATOIDES DAS GALHAS EM TOMATEIRO. Colloquium Agrariae, vol. 13, n. Especial, Jul–Dez, 2017. Disponível em: < http://www.unoeste.br/site/enepe/2017/suplementos/area/Agrariae/Agronomia/Aplica%C3%A7%C3%A3o%20de%20Bacillus%20subtilis%20no%20controle%20de%20nematoides%20das%20galhas%20em%20tomateiro.pdf >, acesso em: 14/06/2021.

GRIGOLLI, J. F. J.; GRIGOLLI, M. M. K. MANEJO DE NEMATOIDES NA CULTURA DA SOJA. Fundação MS, Tecnologia e Produção: Soja 2017/2018, 2018. Disponível em: < https://www.fundacaoms.org.br/base/www/fundacaoms.org.br/media/attachments/304/304/5bf01cc86e7c17178f3daca4bc151777dab75f04854c7_07-manejo-de-nematoides-na-cultura-da-soja-somente-leitura.pdf >, acesso em: 14/06/2021.

SHARMA, R. D.; MOREIRA, W. A.; ALVES, R. T. EFICIÊNCIA DE ENDOTOXINAS DE Bacillus spp. NO CONTROLE DE Heterodera glycines Ichinohe NA SOJA. Embrapa, Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, n. 78, 2003. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/567955/1/bolpd78.pdf >, acesso em: 14/06/2021.

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