A soja (Glycine max L. Merill) é uma cultura que tem altas demandas de nitrogênio (N) em razão do alto teor de proteínas em seus grãos, em torno de 40%. Para produzir uma tonelada de grãos, são necessários cerca de 80 kg de N, dos quais 60% são exportados com os grãos.

Assim, para uma produtividade de 3000 kg/ha de grãos, seriam necessários cerca de 240 kg/ha de N, os quais são obtidos do solo a partir da mineralização da matéria orgânica, mas principalmente por meio da fixação biológica de nitrogênio (FBN), realizada por bactérias especializadas do gênero Bradyhizobium, que retiram o N2 atmosférico e o reduz à forma amoniacal nos nódulos radiculares, de onde é translocado e posteriormente convertido a aminoácidos e proteínas.

Pelo fato de a soja ser uma espécie exótica, os Bradyrhizobium eficiente em realizar FBN em simbiose com a cultura não são encontrados naturalmente nos solos brasileiros e por isso precisam ser fornecidas por meio de inoculantes, que são colocados em contato com as sementes pelo processo de inoculação. Essa prática dispensa o uso de N mineral na cultura da soja e torna o sistema brasileiro de produção de soja um exemplo para o mundo na aplicação dessa biotecnologia, resultando em redução de custos econômicos e ambientais.

Não restam dúvidas de que a FBN em soja é uma tecnologia de baixo custo, porém de grandes resultados, que vem sendo empregada desde os primeiros cultivos comerciais de soja no Brasil e é uma das tecnologias corresponsáveis pelo sucesso da cultura no país.

Entretanto, algumas questões são frequentemente levantadas, tais como:

i) Há necessidade de realizar inoculação anual em áreas cultivadas com soja há vários anos?

ii) Qual é a compatibilidade entre os inoculantes e os produtos químicos empregados no tratamento de sementes?

iii) A inoculação das sementes vários dias antes da semeadura (préinoculação) garante a viabilidade das bactérias até o momento da semeadura?

Para que a FBN seja eficiente, é preciso garantir que as bactérias inoculadas tenham condições de sobreviver e estabelecer a simbiose com a soja. A pesquisa recomenda que para áreas cultivadas sucessivamente com soja, a inoculação deve fornece r no mínimo 1,2
milhões de células por semente, num volume mínimo de 100 mL de inoculante por 50 kg de sementes. Isso é necessário para que haja uma nodulação precoce e abundante, em que o sucesso da inoculação pode ser verificado pela presença dos primeiros nódulos na raiz principal entre 5 e 8 dias após a emergência, e, no estádio V1-V2, cerca de 4 a 8 nódulos/ planta, com 1 a 2 mm. Isso indica que a colonização se deu principalmente pelas bactérias fornecidas via inoculante. Com o desenvolvimento das raízes, também ocorre nodulação secundária, que nesse caso também tem a contribuição das bactérias já estabelecidas no solo. O nódulo ativo e eficiente em FBN tem coloração avermelhada-rósea internamente, resultante da leghemoglobina.

O processo de obtenção de um inoculante envolve várias etapas de isolamento, caracterização morfo-fisiológica, screenings em laboratório e/ou casa de vegetação, e testes de eficiência agronômica no campo. Outra etapa é o desenvolvimento de formulações que garantam a pureza e a viabilidade das bactérias desde a sua produção na indústria até o momento de uso pelo produtor. Segundo normas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), a concentração mínima de células em um inoculante para soja deve ser 1 × 109 unidades formadoras de colônia (UFC) por mL ou g, se líquido ou sólido, respectivamente, e ausência de contaminantes na diluição 1 × 10-5.

Em áreas de primeiro ano de cultivo de soja, sem uma população estabelecida de Bradyrhizobium, a cultura é altamente dependente da inoculação, caso em que no mínimo duas doses do inoculante devem ser aplicadas. No entanto, em mais de 90% das áreas de cultivo tradicional de soja no Brasil, existe uma população de Bradyrhizobium estabelecida no solo da ordem de 1 × 103 a 1 × 106 UFC/g. Nesses casos, a inoculação das sementes não resulta em uma grande evidência visual na cultura, mas resultados de mais de 80 ensaios conduzidos em áreas tradicionalmente cultivadas com soja, desde Roraima até o Rio Grande do Sul, permitem afirmar que há um ganho médio anual da ordem de 8% de produtividade pelo simples fato de se realizar a inoculação anual das sementes.

Resultados de pesquisa recente conduzida na Embrapa Soja na safra 2012/13, com a cultivar BRS 360 RR, em um solo com população estabelecida de Bradyrhizobium de 4,3 × 104  UFC/g de solo, indicaram que a simples inoculação das sementes no momento da semeadura resultou em aumento da produtividade de 4500 para 5000 kg/ha (dados não publicados). Esses resultados são atribuídos ao fato de que as bactérias fornecidas pelo inoculante são mais ativas fisiologicamente que as da população estabelecida no solo, além de possibilitar uma nodulação mais precoce e abundante na região da coroa da raiz principal, que resulta em maior eficiência da FBN na fase inicial de desenvolvimento da cultura.

A inoculação é prática vital para melhoria dos níveis de produtividade da cultura a soja. Entretanto, é preciso garantir que as bactérias inoculadas permaneçam viáveis para que consigam estabelecer a simbiose com a planta. Nesse contexto, é preciso garantir que outras práticas e tecnologias empregadas na cultura não venham a interferir negativamente na sobrevivência das bactérias inoculadas.

Atenção especial deve ser dada aos produtos químicos empregados no tratamento de sementes (TS), visto que vários produtos, não necessariamente seus ingredientes ativos, mas em muitos casos a formulação, são tóxicos às bactérias e podem reduzir a nodulação.

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Sabia que a Calagem e adubação adequadas também são aliadas da FBN?

A calagem  assegura maior eficiência da FBN pois a acidez excessiva do solo é prejudicial à FBN, além de ser fonte de Ca para o desenvolvimento das raízes e nódulos. Além do Co e Mo já mencionados anteriormente, o fósforo também é essencial, pois a FBN é um processo que demanda altas quantidades de energia na forma de ATP. Qualquer deficiência nutricional que prejudique a planta, também prejudicará a FBN. Já o N mineral, em doses acima de 20 kg/ha, inibe a nodulação e a FBN, sendo seu uso dispensável na cultura da soja.

Fonte: 40ª Reunião de Pesquisa de Soja da Região Sul – Atas e Resumos

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Autores: Marco Antonio Nogueira & Mariangela Hungria – Embrapa Soja, Rodovia Carlos João Strass, s/nº Acesso Orlando Amaral, Distrito de Warta, Caixa Postal: 231, 86001-970, Londrina, PR. E-mail: marco.nogueira@embrapa.br; mariangela.hungria@embrapa.br

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