As cotações do trigo, em Chicago, despencaram nesta semana. O primeiro mês cotado fechou a quinta-feira (27) em US$ 6,14/bushel, contra US$ 6,67 uma semana antes. O mercado está em um dos raros momentos em que o bushel de milho (25,4 quilos) vale mais do que o bushel de trigo (27,21 quilos). No dia 27/04 a relação era de US$ 6,14/bushel para o trigo, contra US$ 6,27 para o milho. O atual preço do trigo é o mais baixo, em Chicago, desde o dia 09 de julho de 2021, portanto, há mais de 22 meses.
A queda nos preços do cereal se deu em função de notícias de que a oferta mundial, no curto prazo, será importante, apesar das dificuldades da Ucrânia devido à guerra e das fortes perdas na Argentina. Mas a produção brasileira, que praticamente dobrou no ano passado, com possibilidades de se repetir neste ano, e mais o aumento da área semeada no Canadá, tendem a compensar estas quebras. Além disso, espera-se que a nova produção da Argentina venha bem melhor, após a frustrada safra anterior. No caso do Canadá, o plantio deverá atingir a 10,9 milhões de hectares, sendo a maior área dos últimos 22 anos.
Vale ainda destacar que as inspeções de navios, para o transporte de grãos da Ucrânia, pelo corredor do Mar Negro, foram retomadas, ajudando a provocar esta queda nas cotações do milho e do trigo na Bolsa de Chicago. (Cf. Globo Rural)P
or sua vez, nos EUA, o trigo de primavera vem sofrendo atraso no plantio, registrando 5% da área no dia 23/04, contra 12% na média histórica. Ao mesmo tempo, as condições das lavouras de trigo de inverno voltaram a piorar, com 26% apenas estando entre boas a excelentes, 33% regulares e 41% entre ruins a muito ruins. Mas isso ainda não está sendo contabilizados pelo mercado.
Já em termos de embarques de trigo, na semana encerrada em 20/04, os EUA registraram um volume de 363.826 toneladas, ficando dentro das expectativas do mercado. O total embarcado no ano comercial soma 17,9 milhões de toneladas, ficando 3% menor do que o registrado em igual período do ano anterior.
Especificamente em relação à Ucrânia, as exportações de trigo devem recuar 37% neste ano 2023/24 (julho a junho), ficando em 8,8 milhões de toneladas, devido à guerra. A colheita geral de grãos, da Ucrânia, pode cair 13%, para 45,6 milhões de toneladas, em relação à temporada anterior, incluindo 16,2 milhões de toneladas de trigo, 5,2 milhões de toneladas de cevada e 22,9 milhões de toneladas de milho. A Ucrânia colheu um recorde de 86 milhões de toneladas de grãos em 2021, incluindo 32 milhões de toneladas de trigo, antes da invasão do país pela Rússia. (Cf. APK-Inform)
E aqui no Brasil, o viés de baixa do trigo se consolidou nesta última semana de abril. A média gaúcha, no balcão, fechou a semana em R$ 72,00/saco, enquanto as principais praças do Estado praticaram R$ 68,00. No Paraná, os preços médios vieram para R$ 74,00/saco nas principais regiões produtoras. E isso ocorre mesmo com o Real de valorizando um pouco, saindo de R$ 4,92 para R$ 5,05 por dólar na semana. Ocorre que a demanda dos moinhos continua muito fraca.
Enfim, segundo estudo feito pela Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), tem-se que, em 2022, o Brasil apresentou estabilidade em relação ao volume de trigo moído, na comparação com o ano anterior. Isso porque a demanda por farinha de trigo igualmente se estabilizou. Foram processadas 12,56 milhões de toneladas, originando cerca de 8,5 milhões de toneladas de farinha. Os principais setores que receberam a farinha de trigo produzida foram o de panificação e pré-misturas (42,6% do total), da indústria de massas (12,5%) e da indústria de biscoitos (10%). Por região do país, tem-se que a moagem de trigo no Paraná representa 30% do total nacional, englobando 45 plantas moageiras. As 2,68 milhões de toneladas de farinha de trigo produzidas em indústrias paranaenses foram destinadas, principalmente, para panificação e pré-misturas (35,4%), para a indústria de massas (17,7%) e de biscoitos (15,9%). Já as regiões Norte e Nordeste corresponderam a 26% do total de trigo moído, com as 12 plantas nas duas regiões produzindo um volume de 1,89 milhão de toneladas de farinha, que tiveram como destaque de destinos a panificação e pré-mistura (42,5%), embalagens de um quilo (15,9%) e a indústria de massas (11,9%). Já os moinhos do Rio Grande do Sul processaram 15% do trigo utilizado pelo setor, em 32 plantas industriais, gerando cerca de 900.000 toneladas de farinha, que foram consumidas pelos setores de panificação e pré-mistura (47,4%), embalagens de cinco quilos (11,7%), e indústria de biscoitos (7,3%). No caso de São Paulo, a moagem realizada corresponde a 13% do montante brasileiro, em 15 plantas moageiras. O volume de farinha produzido foi de 1,43 milhão de toneladas, cujas principais destinações foram para panificação e pré-mistura (49,3%), embalagens de cinco quilos (13,4%) e indústria de massas (9%).
Para efeito do cálculo da pesquisa, os 19 moinhos da região Centro-Oeste do Brasil e dos Estados do Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro foram agrupados e, juntos, moeram 10% do trigo endereçado à indústria de processamento. Essa quantidade do cereal gerou 1,25 milhão de toneladas de farinha, que foram utilizadas para panificação e pré-misturas (44,4%), indústria de massas (14,2%) e embalagens de um quilo (13,9%). Por fim, Santa Catarina processou 5% de todo o cereal utilizado no País, produzindo mais de 320.000 toneladas de farinha de trigo, que foram endereçadas, principalmente, para panificação e pré-misturas (51,6%), indústria de biscoitos (21,2%) e embalagens de cinco quilos (11,7%). Nota-se que as diferentes regiões brasileiras possuem um perfil muito semelhante quanto à distribuição da farinha de trigo produzida. (cf. Abitrigo)
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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum¹
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).