A mosca-branca (Bemisia tabaci) é um inseto polífago que ataca diversas culturas de interesse econômico, incluindo soja, feijão, tabaco, tomateiro e diversas hortaliças. O inseto causa perdas na produção devido à sucção de seiva, injeção de toxinas, transmissão de viroses e secreção de uma substância açucarada (honeydew) que favorece o desenvolvimento da fumagina (Capnodium spp.), causando redução da fotossíntese. O controle de mosca-branca é feito majoritariamente através de inseticidas químicos, cujo uso indiscriminado sem rotação de modos de ação pode levar à seleção de populações resistentes do inseto.
Pesquisadores da Embrapa e da Universidade Federal de Goiás utilizaram a técnica de RNA interferente (RNAi) para silenciar o gene v-ATPase em mosca-branca, interagindo com plantas de tomate transgênico que expressam moléculas correspondentes a um fragmento da v-ATPase de B. tabaci. Como as enzimas ATPases transmembranas são cruciais para várias funções no metabolismo celular, a desativação do gene v-ATPase nos insetos torna possível a obtenção de plantas transgênicas resistentes ou tolerantes à mosca-branca.
O mecanismo de RNAi ocorre naturalmente em plantas, animais e fungos, sendo desencadeado pela presença de RNA fita-dupla (dsRNA) e resultando na redução da expressão e silenciamento de genes. A alta efetividade da técnica de RNAi torna-a uma ferramenta promissora para desenvolvimento de plantas transgênicas resistentes ou tolerantes a insetos-praga. Experimentos previamente realizados com alface transgênica expressando dsRNA correspondente a um gene vATPase, por exemplo, demonstraram 83-98% de mortalidade em adultos de mosca-branca e 95% de redução no número de ovos.
Nesse estudo, utilizou-se uma série de linhagens transgênicas de tomateiro nos experimentos, sendo que as linhagens 4.4.1 e 6.8.4 demonstraram melhores resultados. Foi verificada a mortalidade de adultos de mosca-branca dentro de 5 a 7 dias, alcançando uma taxa de controle de 57,1% na linhagem 4.4.1, significativamente maior que a linhagem 6.8.4 (23,5% de mortalidade) e a testemunha não-transgênica (7,6% de mortalidade) (Figura 1).
Figura 1 – Mortalidade de adultos de Bemisia tabaci avaliada de 5 a 7 dias em linhagens transgênicas de tomateiro (4.4.1 e 6.8.4) e não-transgênica (controle).
Também foi avaliado o tempo de desenvolvimento dos insetos, sendo constatado que o número de dias até pupar na linhagem 4.4.1 foi semelhante ao tempo necessário no grupo controle (tomate não-transgênico). A exceção foi o terceiro ínstar dos insetos, que demonstrou-se mais longo nas plantas transgênicas, sugerindo um ligeiro atraso no desenvolvimento ninfal de B. tabaci (Figura 2).
Figura 2- Tempo de desenvolvimento dos estágios ninfais de B. tabaci na linhagem transgênica de tomateiro (4.4.1) e não-transgênica (controle).
Devido à severidade dos danos causados por mosca-branca e outros insetos-praga, o desenvolvimento de resistência ou tolerância genética de plantas mostra-se uma prática sustentável para o controle de insetos de interesse econômico. O uso de RNAi para o silenciamento de genes é uma técnica eficaz que pode ser utilizada para obtenção de plantas transgênicas tolerantes ou resistentes a insetos, sendo uma alternativa ao controle químico, comumente utilizado.
A efetividade do uso de RNAi já foi demonstrada previamente e é uma realidade no desenvolvimento de uma série de produtos comerciais. Os resultados obtidos por Pizetta et al. (2021) em linhagens transgênicas de tomateiro podem servir como base para o desenvolvimento de resistência à mosca-branca em outras culturas agrícolas afetadas pela praga, como a soja.
Elaboração: Lucas Boeni, mestrando PPGAgro – UFSM
Revisão: Henrique Pozebon, doutorando PPGAgro – UFSM e Prof. Jonas Arnemann, PhD. e coordenador do grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM
Referências:
PIZETTA, C. S. R. et al. RNA interference-mediated tolerance to whitefly (Bemisia tabaci) in genetically engineered tomato. 2021. Disponível em: https://www.researchsquare.com/article/rs-865427/v1