O objetivo do presente estudo foi avaliar, por meio da análise química e física de solo, quatro áreas distintas de cultivo, identificando possíveis atributos restritivos, elencando possibilidades de manejo sustentáveis.

Autores: Valéria Escaio Bubans1; Adriano Udich Bester2; Leonir Terezinha Uhde3; Cleusa Adriane Menegassi Bianchi Krüguer4

Introdução

A agricultura é essencial para a produção de alimentos, e com o aumento da população mundial, combinada com a crescente demanda por alimentos, surge uma grande questão: saber como produzir mais alimentos sem afetar drasticamente os diferentes ecossistemas terrestres (GUALBERTO et al., 2003), busca por práticas produtivas mais sustentáveis torna-se imprescindível para a produção agrícola. Entre estas práticas está o manejo sustentável do solo (SANS, 2000; TÓTOLA; CHAER, 2002), o qual diz respeito à manutenção e à melhoria das propriedades físicas, químicas e biológicas dos solos (ARGENTON et al., 2005). Para tal finalidade, é preciso a execução de processos de cultivos com culturas que possuem potencial de incrementar matéria orgânica aos solos.

Os solos, quando submetidos a determinados sistemas de cultivo, tendem a um novo estado de equilíbrio (SILVA et al., 2005), refletindo em diferentes manifestações de seus atributos físicos, químicos e biológicos (DORAN; PARKIN, 1994). A diminuição da qualidade química do solo irá interferir nos teores de fósforo e nitrogênio, na matéria orgânica, na capacidade de troca de cátions e no pH do solo; já a perda da qualidade biológica resulta em efeitos negativos na atividade de enzimas no solo, na biomassa microbiana e nas taxas de mineralização do nitrogênio (TÓTOLA; CHAER, 2002), com implicações diretas sobre o desenvolvimento das plantas.

Quanto à perda da qualidade física, esta afeta o espaço poroso do solo, podendo prejudicar o fornecimento de água e oxigênio, limitando o desenvolvimento das plantas (TORMENA et al., 1998) e da atividade de microrganismos no solo (LEONARDO, 2003), além de afetar diretamente a estrutura do solo, a formação de agregados pouco estáveis, a redução da porosidade, a elevada densidade (NUNES, 2003; CARVALHO et al., 2004), a maior resistência de penetração do sistema radicular das plantas (MARTINS et al., 2002; CARVALHO et al., 2004) e a reduzida capacidade de infiltração e armazenagem de água no solo (TORMENA et al., 1998). A avaliação da qualidade do solo é fundamental para a determinação da sustentabilidade dos sistemas de manejo utilizados (SANS, 2000; TÓTOLA; CHAER, 2002). O objetivo do presente estudo foi avaliar, por meio da análise química e física de solo, quatro áreas distintas de cultivo, identificando possíveis atributos restritivos, elencando possibilidades de manejo sustentáveis.

Material e Métodos

O presente estudo foi realizado na área experimental, pertencente ao Instituto Regional de Desenvolvimento Rural (IRDeR), no município de Augusto Pestana (RS), localizado a 28° 26’ 30’’ S e 54° 00’ 58’’ W, altitude de 280 m. O solo da área experimental é classificado como Latossolo Vermelho distroférrico típico (EMBRAPA, 2013). De acordo com a classificação climática de Köeppen, o clima da região é do tipo CFA (subtropical úmido). Tomou-se como base de roteiro para a coleta das amostras de solo para análise química e física as áreas de mata nativa, sucessão cultural aveia branca/girassol e milho silagem (sucessão 6), sucessão cultural aveia branca/milho grão e soja safrinha (sucessão 7) e pastagem de tifton 85 (perene).

As sucessões 6 e 7 foram constituídas de parcelas (10 x 15 m). As amostragens químicas e físicas foram realizadas no dia 21 de agosto de 2017 em aula prática da disciplina de Manejo e Conservação do Solo e da Água, do curso de Agronomia da Unijuí. Para a análise química do solo foram coletadas três amostras aleatórias em cada área, na profundidade de 0 a 10 cm e de 10 a 20 cm (para realizar a comparação entre os atributos químicos do solo entre duas camadas de profundidades, verificar problemas de acidez potencial em subsuperfície e disponibilidade do fósforo inferior ao limite crítico).

Após a coleta das amostras, as mesmas foram identificadas e enviadas ao Laboratório de Análise de Solos (LAS) da Unijuí, onde procedeu-se as análises físico-químicas das respectivas amostras utilizando-se das metodologias indicadas para todos os laboratórios integrantes da Rede Oficial de Laboratórios de Análise de Solo e Tecido vegetal para os estados do Rio Grande do Sul (Rolas) (TEDESCO et al., 1995), para a determinação dos atributos químicos do solo: pH do solo em água; Índice SMP; matéria orgânica; fósforo e potássio “disponível” (método Mehlich-1); cálcio, magnésio e alumínio trocáveis e teor de argila. Para o estudo da densidade do solo foi adotado o método do anel volumétrico (EMBRAPA, 1997), sendo usados anéis com volume conhecido (176,7 cm3).

As amostras foram coletadas em quatro profundidades: 0,0-0,05; 0,05-0,10; 0,10-0,15 e 0,15-0,20. Os resultados foram utilizados para os cálculos de umidade gravimétrica, umidade volumétrica, densidade do solo, porosidade total e espaço aéreo. No LAS realizou-se a pesagem de Massa de Solo Úmido (MSU) das amostras e, após, foram encaminhadas para a estufa de circulação forçada, com temperatura de 105ºC, por um período mínimo de 48 horas até atingir peso constante. Depois da secagem foi feita uma nova pesagem para obter a Massa de Solo Seco (MSS). Para a densidade das partículas, foi adotado o método do balão volumétrico (EMBRAPA, 1997), e utilizadas as mesmas amostras coletadas para o estudo da densidade do solo. Para verificação da existência de limitações ao crescimento radicular, relacionou-se os resultados de densidade do solo com os resultados da análise granulométrica, mais especificamente o teor de argila, utilizando-se a classificação proposta por Reichert et al. (2007).

Resultados e Discussão

Comparando os resultados físico-químicos entre os distintos sistemas de cultivos em duas profundidades (Tabela 1), é possível observar diminuição da disponibilidade dos nutrientes potássio, fósforo, cálcio e magnésio ao longo do perfil de solo.

Tabela 1. Resultados dos atributos físico-químicos dos solos da mata nativa e distintos agroecossistemas em duas profundidades.

Assim, a matéria orgânica tende a ser menor nas camadas mais profundas do solo em razão do maior acúmulo de resíduos orgânicos em superfície, resultado do sistema de manejo utilizado (plantio direto consolidado). Observa-se uma redução no teor de argila da camada de 0-10 cm em relação à camada de 10 a 20 cm nos quatro agroecossistemas. Nos sistemas de cultivo Tifton 85, sucessão cultural aveia branca/girassol e milho silagem (6), sucessão cultural aveia branca/milho grão e soja safrinha (7), não há necessidade de aplicação de calcário. Na área de pastagem de Tifton 85, há necessidade de ajustar a adubação fosfatada considerando que o teor de fósforo disponível se encontra médio.

Tabela 2. Resultados de Umidade Gravimétrica (UG), Densidade do Solo (DS), Umidade Volumétrica (UV), Porosidade Total (PT), Espaço Aéreo (EA) da mata nativa e distintos agroecossistemas.

Os sistemas de cultivo e de manejo de solo podem alterar as propriedades físicas e químicas do solo. Identificando áreas com restrições ao crescimento radicular e avaliando o estado de compactação, de acordo com Reichert et al. (2007), para solos que apresentam textura média (20 a <55% de argila), caso dos agroecossistemas em estudo, a densidade do solo foi maior do que 1,55 Mg m³ e o espaço aéreo (%) menor que 10, revelando condições de restrição. Observa-se que a densidade do solo não ultrapassa 1,55 g cm-³, significando que não há indicações de restrição para o desenvolvimento das plantas nos três sistemas de cultivo (Tabela 3).

O espaço aéreo é a quantidade de macro e microporos no solo. Se o solo apresentar muitos microporos ele será mais adensado e se torna restritivo no limite de 10%, contudo, ao interpretar os resultados do EA na Tabela 2, percebe-se que também não há restrição; o que significa afirmar que os manejos que estão sendo utilizados nessas áreas encontram-se adequados. De acordo com a Tabela 3, a classe textural predominante no estudo é a argilosa, que contém mais de 35% de argila, formada por grãos menores que os da areia. Solos com maiores teores de argila, em virtude das suas propriedades químicas e físicas, são melhores para fins agrícolas, uma vez que a distribuição do tamanho das partículas do solo interfere diretamente no grau de compactação e na disponibilidade de água (KLEIN, 2008).

Tabela 3. Análise granulométrica e classe textural.

Muitos são os fenômenos que podem degradar o solo. Sendo assim, práticas de manejo e conservação do solo e da água, tanto na agricultura quanto na pecuária, se fazem cada vez mais necessárias para que o uso da terra seja mais sustentável. O planejamento de utilização e manejo do solo deve ser baseado primordialmente em seu potencial produtivo. Para manejar o solo de forma adequada, é preciso levar em consideração suas propriedades físicas, químicas e biológicas. Um bom manejo do solo é aquele que proporciona boa produtividade ao mesmo tempo em que possibilita a manutenção de sua fertilidade, garantindo a produção agrícola no futuro.

Conclusões

Não há condições restritivas ao crescimento e desenvolvimento das culturas, considerando os resultados de densidade do solo, indicadora de compactação.

Referências

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Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Embrapa Solos. Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. 3.ed. Brasília, DF, 2013.

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Klein VA. Física do solo. Passo Fundo: EDIUPF, 2008. 212p.

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Tormena CA, Silva AP, Liberdade PL. Caracterização do intervalo hídrico ótimo em um Latossolo Roxo sob plantio direto. Revista Brasileira de Ciência do Solo, 22:573-581, 1988.

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Informações dos autores

1Aluna do curso de Agronomia, bolsista Pibic/CNPq, Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul-Unijuí, Rincão dos Becker – Interior S/N, Ijuí-RS.

2Aluno do curso de Agronomia, bolsista Pibic/CNPq, Unijuí.

3Dra. profa. do Departamento de Estudos Agrários – DEAg/Unijuí, Ijuí-RS.

4Dra. profa. do DEAg/Unijuí, Ijuí-RS.

Disponível em: Anais da XII Reunião Sul-Brasileira de Ciência do Solo. Xanxerê – SC, Brasil.

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