O manejo e controle de doenças fungicas na cultura da soja é essencial para evitar perdas de tanto quantitativas quanto qualitativas dos grãos ou sementes produzidos. Embora determinados patógenos possam estar presente durante todo o período do desenvolvimento da soja em áreas de cultivo, sobrevivendo em resíduos culturais, algumas doenças se destacam por acometer a soja no final do ciclo de desenvolvimento da cultura.
Essas doenças são popularmente conhecidas como DFCs – Doenças de Final de Ciclo da soja, e fazem parte desse complexo, doenças fungicas como mancha-parda (Septoria glycines) e o crestamento-foliar de Cercospora (Cercospora spp.). Quando causada pelo fungo Cercospora kikuchii, a doença pode atacar toda a parte aérea da soja, podendo inclusive acometer legumes, passando para os grãos, tendo como resultado o surgimento da mancha-púrpura nos grãos.
Figura 1. Representação esquemática do período de ocorrência das principais doenças da cultura da soja.
Figura 2. Sintomas típicos de mancha-púrpura em sementes de soja.
Normalmente as DFCs são resultado do conjunto de falhas de controle durante o ciclo de desenvolvimento da soja, condições adequadas de umidade, temperatura e inoculo para o desenvolvimento das doenças e/ou fatores relacionados a baixa sensibilidade dos patógenos a fungicidas. Conforme destacado por Godoy et al. (2021), a partir de 2008, isolados de Cercospora spp. com a mutação G143A no citocromo b e E198A na β tubulina, que conferem resistência a fungicidas inibidores da quinona externa (IQe – estrobilurina) e metil benzimidazol carbamato (MBC), respectivamente, foram encontrados em nove estados do Brasil.
A dificuldade de controle de algumas DFCs, torna necessário adequar o programa de fungicidas, utilizando moléculas que apresentem controle satisfatório dessas doenças. Para tanto, é necessário conhecer a eficiência dos fungicidas no manejo e controle das DFCs. Godoy et al. (2021), em seu estudo, apresentam resultados sumarizados dos experimentos realizados na safra 2020/2021, para controle das doenças de final de ciclo na cultura da soja, dando ênfase para a mancha-parda e Cercospora spp.
Como o objetivo do estudo foi avaliar a eficiência dos fungicidas no fim de ciclo, foi realizada uma aplicação aos 45-50 dias após a germinação com Fox Xpro 0,5 L/ha (bixafen & protioconazol & Trifloxistrobina 62,5 & 87,5 & 75 g i.a./ha) + Áureo 0,25% v/v em todos os tratamentos, menos na testemunha absoluta (T1), também foi incluída uma testemunha adicional (T2) com a aplicação do tratamento inicial com Fox Xpro 0,5 L/ha (Godoy et al., 2021).
Conforme resultados observados, Godoy et al. (2021) destacam que dentro dos tratamentos analisados, a menor severidade e maior porcentagem de controle (54%) foi observada para o tratamento com Previnil (clorotalonil – T9), seguido de Vessarya (picoxistrobina & benzovindiflupir – T6, 38%), Unizeb Gold (mancozebe – T11, 36%), Cypress (difenoconazol & ciproconazol – T3, 33%) e Folicur (tebuconazol – T8, 33%). As misturas de IQe & IDM (Aproach Prima e Sphere Max) apresentaram controle das DFC de 26% e 25%, respectivamente.
Tabela 1. Severidade das doenças de final de ciclo, porcentagem de controle em relação à testemunha com as aplicações iniciais (T2) (%C), produtividade (PROD) e porcentagem de redução de produtividade (%RP) em relação ao tratamento com a maior produtividade, para os diferentes tratamentos. Média de 7 experimentos para severidade e 5 experimentos para produtividade. Safra 2020/2021 (Godoy et al., 2021).
Já com relação a produtividade da soja, os autores destacam que o único tratamento que diferiu significativamente da testemunha com a aplicação do fungicida (Fox Xpro) aos 50 dias após semeadura (DAS) foi o tratamento composto por Prevenil (clorotalonil), se sobressaindo aos demais, e apresentando produtividade 12,4% superior a testemunha (sem fungicidas – T1).
Embora o adequado programa de fungicidas seja essencial para reduzir as perdas de produtividade da soja em função da ocorrência das DFCs, práticas complementares como o monitoramento intensivo das áreas de cultivo (especialmente as com histórico da ocorrência de doenças), o uso de sementes com boa qualidade sanitária, o tratamento de sementes com fungicidas, o adequado esquema de rotação e culturas, assim como o emprego de cultivares com maior tolerância a essas doenças, são indispensáveis e não devem ser desprezadas.
Confira o trabalho completo de Godoy e colaboradores (2021) clicando aqui!
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Referências:
GODOY, C. V. et al. EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS PARA O CONTROLE DAS DOENÇAS DE FINAL DE CICLO DA SOJA, NA SAFRA 2020/2021: RESULTADOS SUMARIZADOS DOS ENSAIOS COOPERATIVOS. Embrapa, Circular Técnica, n. 176, 2021. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/225887/1/CT-176-OL-1.pdf >, acesso em: 19/05/2022.
SARAN, P. E. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DAS DOENÇAS DA SOJA. Coletânea FMC: cada dia mais completa, 2011.