Hoje, vamos continuar entendendo sobre os mecanismos de ação dos herbicidas.

Já vimos sobre os Inibidores da ACCase, Glutamina sintetase, FSI, FSII, Carotenóides e Crescimento Inicial.

No texto de hoje vamos compreender o mecanismo de ação dos herbicidas Inibidores da ALS (acetolactato sintase).

Este grupo é representado pelos herbicidas bispyribac, cloransulam, chlorimuron, diclosulam, ethoxysulfuron, cyclosulfamuron, flumetsulam, imazamox, imazapic, imazapyr, imazethapyr, imazaquin, trifloxysulfuron, pyroxsulam, pyrithiobac, pyrazosulfuron, iodosulfuron, nicosulfuron, penoxsulam e metsulfuron.

Os herbicidas deste mecanismo de ação fazem parte de 5 grupos químicos, 4 deles com registro no Brasil:

  • imidazolinonas: imazamox, imazapic, imazapyr, imazethapyr e imazaquin;
  • sulfoniluréias: chlorimuron, ethoxysulfuron, cyclosulfamuron, trifloxysulfuron, pyroxsulam, pyrazosulfuron, iodosulfuron,-nicosulfuron e metsulfuron;
  • triazolopirimidinas: cloransulam, diclosulam, flumetsulam e penoxsulam;
  • pirimidinil(tio)benzoatos: pyrithiobac e bispyribac.

Fonte: weedscience.

Vamos ver agora as principais características dos herbicidas Inibidores da ALS.

Principais características

  • um dos grupos mais importantes comercializados atualmente;
  • alta eficácia em doses baixas;
  • seletivo para muitas culturas;
  • controle de gramíneas e folhas largas;
  • atividade no solo e nas folhas;
  • usados em pré e pós-emergência;
  • a paralisação do crescimento ocorre poucas horas após a aplicação, mas a morte das plantas pode levar até semanas;
  • bloqueiam a síntese de aminoácidos leucina, valina e isoleucina;
  • absorção (folha, caule e raiz) rápida;
  • translocação pelo xilema e floema (apossimplástica);
  • as imidazolinonas apresentam antagonismo com 2,4-D;
  • sinergismo com inseticidas organofosforados e adubação nitrogenada;
  • média adsorção aos colóides do solo;
  • persistência no solo é variável.

Como ocorre o controle das plantas daninhas?

Os herbicidas Inibidores da ALS, atuam inibindo a enzima acetolactato sintase (ALS);

Com a inibição da enzima ALS, não há formação dos aminoácidos ramificados valina, leucina e isoleucina;



Com isso, ocorre a interrupção da síntese protéica, que, por sua vez, interfere na síntese do DNA e no crescimento celular; 

Locais de atuação dos herbicidas que inibem a síntese de algum tipo de aminoácido. Fonte: Vargas et al. (1999). Retirado de Oliveira Jr. (2011).

Rota metabólica responsável pela síntese dos aminoácidos valina, leucina e isoleucina; local de ação da enzima ALS, bem como, ponto de interferência dos herbicidas que atuam sobre o sistema. Fonte: Vargas et al. (2016).

Agora que vimos como atuam estes herbicidas na planta, vamos ver quais os sintomas que podemos identificar após a aplicação destes produtos. 

Sintomas após a aplicação de herbicidas Inibidores da ALS

As plantas, após a exposição ao herbicida, tornam-se cloróticas, definham e morrem;

A morte das plantas ocorre entre 7 a 14 dias após a aplicação dos herbicidas;

A paralisação do crescimento ocorre de uma a duas horas após a aplicação;

Os sintomas aparecem após vários dias e iniciam com a murcha das partes jovens da planta;

Em plantas de folha larga podem ser vistas a presença de nervuras avermelhadas na parte de baixo das folhas;

Encurtamento da raiz principal e proliferação de raízes laterais (“escova de limpar garrafas”);

Nas gramíneas ocorre redução do comprimento dos entrenós e espessamento do colmo.

Sintomas de herbicida Inibidor da ALS: presença de nervuras avermelhadas na parte de baixo de folhas.

Sintomas de halosulfuron (esquerda) e ethoxysulfuron (direita) em tiririca (Cyperus rotundus).

Sintomas de imazapyr (4 vezes a dose) em muda pré-brotada de cana-de-açúcar, aplicação em pré-plantio, no mesmo dia do plantio.

Casos de resistência no Brasil e no mundo!

No mundo estão registrados 162 espécies de plantas daninhas resistentes a este mecanismo de ação.

Casos de resistência aos herbicidas Inibidores da ALS. Fonte: weed science.

Como podemos ver, este mecanismo de ação é o que apresenta o maior número de casos registrados. 

Fonte: Weed Science.

No Brasil, existem 19 espécies com relato de resistência a este mecanismo de ação.Fonte: weed science.

Vamos ver agora as culturas em que são registrados este mecanismo de ação.

A tabela abaixo foi feita com base no Guia de Herbicidas (2018), nela constam as culturas em que podem ser utilizados os herbicidas deste grupo.

Espécie Ano Cultura Local Herbicida
Bidens pilosa 1993 soja Mato Grosso do Sul chlorimuron, imazaquin, imazethapyr, nicosulfuron e pyrithiobac
Euphorbia heterophylla 1993 soja Rio Grande do Sul e Paraná chlorimuron, cloransulam, imazamox, imazaquin

e imazethapyr

Bidens subalternans 1996 soja Mato Grosso do Sul chlorimuron, imazethapyr e nicosulfuron
Sagittaria montevidensis 1999 arroz Santa Catarina bispyribac, cyclosulfamuron, ethoxysulfuron, metsulfuron e pyrazosulfuron
Cyperus difformis 2000 arroz Santa Catarina cyclosulfamuron e pyrazosulfuron
Fimbristylis miliacea 2001 arroz Santa Catarina pyrazosulfuron
Raphanus sativus 2001 trigo Brasil chlorimuron, cloransulam, imazethapyr, metsulfuron e nicosulfuron
Euphorbia heterophylla 2004 milho e soja Paraná Resistência múltipla: cloransulam, diclosulam, metsulfuron, nicosulfuron, flumetsulam (ALS), flumiclorac, acifluorfen, fomesafen, imazethapyr, lactofen e saflufenacil (PROTOX)
Parthenium hysterophorus 2004 soja Paraná chlorimuron, cloransulam, foramsulfuron, imazethapyr e iodosulfuron
Oryza sativa var. sylvatica 2006 arroz Rio Grande do Sul imazapic e imazethapyr
Bidens subalternans 2006 milho Paraná Resistência múltipla: atrazine (FSII), foramsulfuron e iodosulfuron (ALS)
Echinochloa crus-galli var. crus-galli 2009 arroz Rio Grande do Sul Resistência múltipla: bispyribac, imazethapyr, penoxsulam (ALS) e quinclorac (Auxinas Sintéticas)
Sagittaria montevidensis 2009 arroz Santa Catarina Resistência múltipla: bentazon (FSII), bispyribac, ethoxysulfuron, imazethapyr, metsulfuron, penoxsulam e pyrazosulfuron (ALS)
Lolium perenne ssp. multiflorum 2010 trigo Rio Grande do Sul iodosulfuron
Conyza sumatrensis 2011 soja Paraná chlorimuron
Conyza sumatrensis 2011 milho e soja Paraná Resistência múltipla: chlorimuron (ALS) e  glyphosate (EPSPs)
Amaranthus retroflexus 2011 algodão Brasil Resistência múltipla: atrazine, prometryn (FSII) e trifloxysulfuron (ALS)
Amaranthus viridis 2011 algodão Brasil Resistência múltipla: atrazine, prometryn (FSII)  e trifloxysulfuron (ALS)
Amaranthus retroflexus 2012 algodão Brasil pyrithiobac e trifloxysulfuron
Raphanus raphanistrum 2013 trigo e cevada Paraná chlorimuron, cloransulam, imazapic, imazapyr, iodosulfuron, metsulfuron e sulfometuron
Ageratum conyzoides 2013 soja e algodão Mato Grosso pyrithiobac e trifloxysulfuron
Cyperus iria 2014 arroz Rio Grande do Sul bispyribac, imazapic, imazethapyr, penoxsulam e pyrazosulfuron
Echium plantagineum 2015 trigo e cereais Rio Grande do Sul metsulfuron-methyl
Echinochloa crus-galli var. crus-galli 2015 arroz Tubarão (SC) Resistência múltipla: cyhalofop (ACCase), penoxsulam (ALS) e quinclorac (Auxinas Sintéticas)
Amaranthus palmeri 2016 milho, algodão e soja Mato Grosso Resistência múltipla: chlorimuron, cloransulam imazethapyr (ALS) e glyphosate (EPSPs)
Bidens pilosa 2016 soja e milho Paraná Resistência múltipla: atrazine (FSII) e imazethapyr (ALS)
Lolium perenne ssp. multiflorum 2016 trigo Brasil Resistência múltipla: clethodim (ACCase) e iodosulfuron (ALS)
Lolium perenne ssp. multiflorum 2017 milho, soja e trigo Roncador (PR) Resistência múltipla: glyphosate (EPSPs), iodosulfuron e pyroxsulam (ALS)
Conyza sumatrensis 2017 soja Assis Chateaubriand (PR) Resistência múltipla: chlorimuron (ALS), glyphosate (EPSPs) e paraquat (FSI)

Consulte o guia e a bula de cada produto para verificar o modo de aplicação para que você não tenha problemas com a seletividade dos herbicidas.

Herbicida Culturas
imazapyr aceiros, cana-de-açúcar, eucalipto (erradicação), ferrovias, oleodutos, pinus, redes de alta tensão, rodovias
pyrithiobac algodão
trifloxysulfuron algodão, cana-de-açúcar
imazapic amendoim, cana-de-açúcar
iodosulfurom arroz/arroz de sequeiro, cana-de-açúcar, trigo
metsulfurom arroz/arroz de sequeiro, arroz irrigado, aveia branca/aveia preta, café, cana-de-açúcar, cevada, manejo de inverno, pastagens, trigo, triticale
bispyribac arroz irrigado
cyclosulfamuron arroz irrigado
ethoxysulfuron arroz irrigado
imazethapyr arroz irrigado, feijão, soja
penoxsulam  arroz irrigado
pyrazosulfuron arroz irrigado
chlorimuron café, citros, eucalipto, pinus, soja
diclosulam cana-de-açúcar, soja
imazamox canola, feijão, girassol, soja, trigo
nicosulfuron milho
imazapic + imazapyr soja e milho tolerantes às imidazolinonas
cloransulam soja
flumetsulam soja
imazaquin soja
pyroxsulam trigo

 

Conclusão: No texto de hoje entendemos mais sobre o mecanismo de ação do herbicidas Inibidores da ALS.

Vimos as principais características deste grupo, os casos de resistência, sintomas após a aplicação, como atuam dentro das plantas e em quais culturas podem ser utilizados. 

Gostou do texto? Tem mais dicas sobre os herbicidas Inibidores da ACCase? Adoraria ver o seu comentário abaixo!

Sobre a Autora: Ana Ligia Girardeli é Engenheira Agrônoma formada na UFSCar. Mestra em Agricultura e Ambiente (UFSCar) e Doutora em Fitotecnia (USP/ESALQ). Atualmente está cursando MBA em Agronegócios.

 

Referências utilizadas neste artigo:

Aspectos de resistência de plantas daninhas a herbicidas. Christoffoleti, P.J.; Nicolai, M. 4ed. Piracicaba: ESALQ, 2016.

Aspectos da biologia e manejo das plantas daninhas / organizado por Patrícia Andrea Monquero – São Carlos: RiMa Editora, 2014.

Biologia e manejo de plantas daninhas / editores: Rubem Silvério de Oliveira Jr., Jamil Constantin e Miriam Hiroko Inoue – Curitiba, PR: Omnipax, 2011.

Proteção de Plantas – Manejo de Plantas Daninhas. Silva, A.A.; Ferreira, E.A.; Pires, F.R.; Ferreira, F.A.; Santos, J.B.; Silva, J. Ferreira.; Silva, J. Francisco.; Vargas, L; Ferreira, L.R.; Vivian, R.; Júnior, R.S.O.; Procópio, S, 2010.

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