A quantidade e distribuição de chuvas, sobretudo, em sistemas produtivos não irrigados, é um dos principais fatores que instigam a variabilidade das produtividades de soja no Sul do Brasil em relação ao Centro-Oeste, onde as chuvas são bem distribuídas durante todo o período de cultivo da soja.

Figura 2.1. Histórico (2000/01 a 2020/21) da média de produtividade de soja das regiões Sul e Centro-Oeste do Brasil.

Cerca de 90% da massa de uma planta de soja é constituída de água e esta atua em processos fisiológicos e bioquímicos essenciais (Taiz & Zeiger, 2013). Os períodos de germinação/emergência e floração/enchimento de grãos são os períodos mais críticos pensando em exigência de água. O período de germinação/emergência é sensível ao excesso e ao déficit de água, pois está ocorrendo o estabelecimento da cultura e definindo um dos principais componentes de produtividade da soja, o número de plantas por área.

Já na floração/enchimento de grãos ocorre o ápice da demanda hídrica pela planta de soja, podendo chegar a 9 mm por dia em condições potenciais, quando existe água disponível no solo e um sistema radicular capaz de suprir a elevada demanda da planta e da atmosfera (Figura 2.1.1). A maior demanda hídrica na floração e na fase de enchimento de grãos ocorre em função da maior superfície de folhas (índice de área foliar) transpirando (Figura 2.1.1)

Figura 2.1.1. Evapotranspiração real (ETr) da cultura (simulação com modelo DSSAT – CROPGRO) representada nas colunas e o coeficiente de cultura (Kc) da FAO na linha preta, em relação aos estágios de desenvolvimento da soja.

Se aproveitado com máxima eficiência, a cada um milímetro de água durante o ciclo de desenvolvimento da cultura é capaz de produzir 9,1 kg de grãos de soja em condição potencial, ou cerca de 6 kg de grãos de soja a nível de lavoura (Zanon et al., 2016a). Todavia, conforme aumenta-se o GMR das cultivares (aumenta o ciclo), maior é a exigência por água durante o ciclo (Alliprandini et al., 2009). A demanda hídrica de cultivares com GMR ≤ 5.5 é de 765 mm (Figura 2.1.2 A), para GMR 5.6 a 6.4 é de 830 mm (Figura 2.1.2 B) e para GMR ≥ 6.5 é de 875 mm (Figura 2.1.2 C) (Tagliapietra et al., 2021).

O ponto de máxima eficiência no uso da água em relação à produtividade representa a produtividade da água atingível (PAA, expressa em kg ha-1 mm-1). A PPA estimada para GMRs ≤ 5.5 foi 9,2 kg ha-1 mm-1 (Figura 2.1.2 A), para GMRs entre 5.6 a 6.4 foi 8,6 kg ha-1 mm-1 (Figura 2.1.2B) e para GMRs ≥ 6.5 foi 8,5 kg ha-1 mm-1 (Figura 2.1.2 C).

A partir disso, evidencia-se que cultivares de GMR ≤ 5.5 apresentam maior eficiência no uso da água. Assim, é recomendável o uso de cultivares de GMRs baixos e ciclo curto com alto potencial de produtividade em sistemas irrigados e/ ou com restrição de volume de água para irrigação, visando para aumentar a eficiência no uso da água, de energia e a rentabilidade do produtor (Tagliapetra et al., 2021)

Figura 2.1.2. Produtividade da soja (ton ha-1) em relação ao suprimento de água (mm) durante a estação de cultivo (SEM – R7) da soja para diferentes cultivares com GMR ≤ 5.5 (A),GMR 5.6 a 6.4 (B) e GMR ≥ 6.4 (C). O suprimento de água foi estimado como a soma da água disponível no solo na semeadura, precipitação e irrigação total. Círculos azuis representam experimentos irrigados e círculos amarelos experimentos sem irrigação. Linha sólida preta representa a função limite e linha sólida vermelha indica o valor ótimo de suprimento de água durante o ciclo total e a linha tracejada vermelha representa a inclinação da função limite.

Referências Bibliográficas

ECOFISIOLOGIA DA SOJA: VISANDO ALTAS PRODUTIVIDADES / EDUARDO LAGO TAGLIAPIETRA… [ET AL.]. 2. ED. SANTA MARIA: [S. N.], 2022.


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