A quantidade e distribuição de chuvas, sobretudo, em sistemas produtivos não irrigados, é um dos principais fatores que instigam a variabilidade das produtividades de soja no Sul do Brasil em relação ao Centro-Oeste, onde as chuvas são bem distribuídas durante todo o período de cultivo da soja.
Cerca de 90% da massa de uma planta de soja é constituída de água e esta atua em processos fisiológicos e bioquímicos essenciais (Taiz & Zeiger, 2013). Os períodos de germinação/emergência e floração/enchimento de grãos são os períodos mais críticos pensando em exigência de água. O período de germinação/emergência é sensível ao excesso e ao déficit de água, pois está ocorrendo o estabelecimento da cultura e definindo um dos principais componentes de produtividade da soja, o número de plantas por área.
Já na floração/enchimento de grãos ocorre o ápice da demanda hídrica pela planta de soja, podendo chegar a 9 mm por dia em condições potenciais, quando existe água disponível no solo e um sistema radicular capaz de suprir a elevada demanda da planta e da atmosfera (Figura 2.1.1). A maior demanda hídrica na floração e na fase de enchimento de grãos ocorre em função da maior superfície de folhas (índice de área foliar) transpirando (Figura 2.1.1)
Se aproveitado com máxima eficiência, a cada um milímetro de água durante o ciclo de desenvolvimento da cultura é capaz de produzir 9,1 kg de grãos de soja em condição potencial, ou cerca de 6 kg de grãos de soja a nível de lavoura (Zanon et al., 2016a). Todavia, conforme aumenta-se o GMR das cultivares (aumenta o ciclo), maior é a exigência por água durante o ciclo (Alliprandini et al., 2009). A demanda hídrica de cultivares com GMR ≤ 5.5 é de 765 mm (Figura 2.1.2 A), para GMR 5.6 a 6.4 é de 830 mm (Figura 2.1.2 B) e para GMR ≥ 6.5 é de 875 mm (Figura 2.1.2 C) (Tagliapietra et al., 2021).
O ponto de máxima eficiência no uso da água em relação à produtividade representa a produtividade da água atingível (PAA, expressa em kg ha-1 mm-1). A PPA estimada para GMRs ≤ 5.5 foi 9,2 kg ha-1 mm-1 (Figura 2.1.2 A), para GMRs entre 5.6 a 6.4 foi 8,6 kg ha-1 mm-1 (Figura 2.1.2B) e para GMRs ≥ 6.5 foi 8,5 kg ha-1 mm-1 (Figura 2.1.2 C).
A partir disso, evidencia-se que cultivares de GMR ≤ 5.5 apresentam maior eficiência no uso da água. Assim, é recomendável o uso de cultivares de GMRs baixos e ciclo curto com alto potencial de produtividade em sistemas irrigados e/ ou com restrição de volume de água para irrigação, visando para aumentar a eficiência no uso da água, de energia e a rentabilidade do produtor (Tagliapetra et al., 2021)
Figura 2.1.2. Produtividade da soja (ton ha-1) em relação ao suprimento de água (mm) durante a estação de cultivo (SEM – R7) da soja para diferentes cultivares com GMR ≤ 5.5 (A),GMR 5.6 a 6.4 (B) e GMR ≥ 6.4 (C). O suprimento de água foi estimado como a soma da água disponível no solo na semeadura, precipitação e irrigação total. Círculos azuis representam experimentos irrigados e círculos amarelos experimentos sem irrigação. Linha sólida preta representa a função limite e linha sólida vermelha indica o valor ótimo de suprimento de água durante o ciclo total e a linha tracejada vermelha representa a inclinação da função limite.
Referências Bibliográficas
ECOFISIOLOGIA DA SOJA: VISANDO ALTAS PRODUTIVIDADES / EDUARDO LAGO TAGLIAPIETRA… [ET AL.]. 2. ED. SANTA MARIA: [S. N.], 2022.