Em virtude de adversidades climáticas e ambientais, em algumas safras é possível observar certos comportamentos um tanto quanto incomuns em plantas de soja, mesmo em cultivares modernas, as quais apresentam maior adaptabilidade ambiental. Um desses comportamentos, é a emissão de trifólios, e/ou ramificações junto aos cotilédones da planta no início do seu desenvolvimento.
Figura 1. Folha trifoliolada junto aos cotilédones da soja.

Essa característica, pode ser visualizada em algumas regiões de cultivo, no início do desenvolvimento das plantas, refletindo em algumas indagações, tais como: o que causa? Interfere na produtividade? Tem relação com a qualidade das sementes?
Em vídeo, o Doutor Geraldo Chavarria explica que essa condição está relacionada a ocorrência de estresses. Os estresses que desencadeiam essa condição podem estar relacionados a fatores climáticos e ambientais tais como a deficiência hídrica e a elevada temperatura.
Uma das formas de quantificar a necessidade hídrica da cultura da soja é através da sua evapotranspiração, dada em mm.dia-1. A evapotranspiração da soja varia de acordo com o estádio de desenvolvimento da cultura, sendo maior nos períodos de floração e enchimento de grãos (Figura 2). Contudo, independente da fase de desenvolvimento da cultura, quando o requerimento da cultura é superior a quantidade de água disponível para ela, ocorre déficit hídrico, sendo esse um dos fatores causadores de estresse.
Segundo Farias; Nepomuceno; Neumaier (2007), de maneira geral, a quantidade média requerida de água durante o ciclo de desenvolvimento da soja varia entre 450 e 800mm, sendo que sua evapotranspiração durante o período de enchimento de grãos pode chegar a 7 – 8 mm.dia-1.
Veja também: Evapotranspiração padrão e real da cultura da soja
Figura 2. Evapotranspiração diária (ET) da soja em distintos estádios do seu desenvolvimento fisiológico.

Segundo Zanon et al. (2018), durante o período de V1 a Vn, a temperatura basal inferior da soja é de 7,6°C e a basal superior é de 40°C, ou seja, a soja não se desenvolve sob temperaturas inferiores e superiores a essas, respectivamente. Sendo assim, temperaturas inferiores e superiores a essa podem desencadear condições de estresse, principalmente quando associadas á condições de déficit hídrico. A temperatura ótima para o desenvolvimento da soja durante o período de V1 a Vn é de 31°C.
Conforme destacado por Chavarria, como o objetivo principal da planta é se desenvolver para perpetuar a espécie, em uma respostar as condições de estresse, a planta tenta “acelerar” seu ciclo, e com isso passa a emitir novos órgãos. Caso o estresse seja prolongado, além da emissão de novas folhas, é possível observar a emissão de flores e frutos respectivamente, mesmo em plantas com baixo porte.
Mas isso afeta a produtividade da lavoura?
Como em reposta da ocorrência de estresse a planta passa a emitir novos órgãos, a fim de acelerar o ciclo de desenvolvimento, caso o período de estresse seja superado e condições adequadas para o desenvolvimento da planta sejam ofertadas, esses novos órgãos emitidos durante o período de estresse, a exemplo das folhas, passam a agregar na produção de fotoassimilados possibilitando maior acúmulo de matéria seca e consequentemente produtividade da cultura. Conduto, esse fato não é obrigatoriamente efetivo, sendo que vários fatores podem influenciar no crescimento e desenvolvimento das plantas, refletindo em uma boa ou má produtividade da cultura.
Qual a relação com a qualidade de sementes?
Conforme destacado por Geraldo, a característica de emissão de novas estruturas/órgãos pode ser observada em maior frequência em plantas oriundas de sementes de elevado vigor, entretanto, o vigor não é o principal fator desencadeador da emissão de novos órgãos, e sim, a ocorrência de estresses.
Confira o vídeo abaixo e veja o que o Dr. Geraldo Chavarria tem a dizer sobre o assunto.
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Referências:
Berlato, M.A.; Matzenauer, R.; Bergamaschi, H. EVAPOTRANSPIRAÇÃO MÁXIMA DA SOJA E RELAÇÕES COM A EVAPOTRANSPIRAÇÃO CALCULADA PELA EQUAÇÃO DE PENMAN, EVAPORAÇÃO DO TANQUE “CLASSE A” E RADIAÇÃO SOLAR. Agronomia Sulriograndense, Porto Alegre, v.22, n.2, p.243-259, 1986.
FARIAS; J. R. B.; NEPOMUCENO, A. L.; NEUMAIER, N. ECOFISIOLOGIA DA SOJA. Embrapa, Circular Técnica, n. 48, 2007. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/handle/doc/470308 >, acesso em: 21/12/2020.
Zanon, A. J. ECOFISIOLOGIA DA SOJA: VISANDO ALTAS PRODUTIVIDADES. Santa Maria, 2018.