InícioDestaqueSpodoptera frugiperda em milho: água no cartucho auxilia no controle?

Spodoptera frugiperda em milho: água no cartucho auxilia no controle?

A cultura do milho é afetada por um variado complexo de pragas, cujos danos levam a grandes perdas econômicas no produto final. Entre as principais pragas desta cultura, destaca-se a lagarta-do-cartucho Spodoptera frugiperda, devido à sua capacidade de causar danos às lavouras, frequência de ocorrência e dificuldade de controle com métodos tradicionais (Moraes et al., 2015).

Essa praga se alimenta das plantas de milho em todas as suas fases de crescimento, porém tem preferência por cartuchos de plantas jovens. Além disso, pode reduzir o rendimento de grãos em até 60% dependendo da data de semeadura, híbrido escolhido e estágio de crescimento da planta no momento do ataque (Cruz et al., 2018).

O chamado “cartucho” consiste na justaposição das folhas da planta de milho em crescimento durante seus estágios iniciais de desenvolvimento, resultando em uma estrutura no formato de funil ou cone. Devido ao hábito alimentar das larvas de S. Frugiperda, as quais migram para o cartucho da planta a fim de permanecerem abrigadas durante toda a fase larval,  seu controle por meio de pulverizações com inseticidas apresenta sérias desvantagens.

Figura 1. Spodoptera frugiperda alojada no interior do cartucho de uma planta de milho.

Fonte: PROMIP.

As folhas que compõem o cartucho do milho, além de fornecerem abrigo para as larvas de S. frugiperda, também podem armazenar água da chuva, orvalho ou irrigação, devido ao arranjo e disposição das mesmas. Assim, esse armazenamento de água representa uma possibilidade de auxílio no controle da lagarta-do-carucho com inseticidas químicos.

Figura 2. Representação das parcelas que receberam irrigação (esquerda) ou permaneceram protegidas por uma lona plástica (direita). Em detalhe, o armazenamento de água dentro do cartucho de milho após a irrigação (4 mm)

Fonte: Bialozor et al., 2020. Confira a imagem original clicando aqui

Segundo Bialozor et al. (2020), experimentos realizados mostraram que os danos causados ​​por S. frugiperda em plantas de milho foram significativamente reduzidos pela presença de água dentro dos cartuchos, especialmente nos primeiros estágios de desenvolvimento das plantas (até V8). Além disso, o número de plantas danificadas foi 17% menor quando o inseticida clorantraniliprole foi pulverizado no momento em qua havia água dentro dos cartuchos (ou seja, logo após a irrigação).

Esses resultados mostram que a presença de 4 mm ou mais de água dentro dos cartuchos de milho (seja oriunda de chuva, irrigação ou mesmo orvalho), combinada com aplicação do inseticida clorantraniliprole, reduz em mais de 10% o número de plantas danificadas por S. frugiperda durante os estágios iniciais da cultura.

Figura 3. Efeito da presença de água dentro dos cartuchos de milho para a incidência e dano de Spodoptera frugiperda, em plantas pulverizadas com inseticida clorantraniliprole, em duas safras e duas fases de crescimento diferentes.

 Fonte: Bialozor et al., 2020. Confira a imagem original clicando aqui

A explicação mais provável para este aumento de controle é que a presença de água dentro dos cartuchos de milho (especialmente durante o estágios iniciais de crescimento da cultura) faz com que as lagartas de S. frugiperda saiam do cartucho para realizar trocas gasosas através dos seus espiráculos. Este comportamento resulta em um aumento da exposição das lagartas à contaminação com os inseticidas pulverizados, bem como predação por inimigos naturais como insetos, pássaros e patógenos (Bialozor et al., 2020).

Assim, visando um controle mais eficiente de S. frugiperda na cultura do milho em seus estágios iniciais de desenvolvimento, é viável a aplicação de inseticidas como clorantraniliprole logo após a irrigação da lavoura, ou mesmo após a ocorrência de chuvas moderadas ou formação de orvalho no início da manhã. Assim, o comportamento das lagartas de emergir do cartucho para respirar irá maximizar a ação do inseticida aplicado.



Revisão: Henrique Pozebon, Mestrando PPGAgro  e Prof. Jonas Arnemann, PhD. e Coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM

REFERÊNCIAS:

BARCELOS, Paulo Henrique Soares; ANGELINI, Marina Robles. Controle de Spodoptera frugiperda (Smith, 1797) em diferentes tecnologias Bts (Bacillus thuringienses) na cultura do milho. JOURNAL OF NEOTROPICAL AGRICULTURE, v. 5, n. 1, p. 35-40, 2018.

BASANTA, M. V.; DOURADO-NETO, D.; GARCÍA, A. G. Estimativa do volume máximo de calda para aplicação foliar de produtos químicos na cultura de milho. Scientia Agricola, v. 57, n. 2, p. 283-288, 2000

BIALOZOR, Adriano et al. Water in maize whorl enhances the control of Spodoptera frugiperda with insecticides. Pesquisa Agropecuária Tropical, v. 50, 2020. https://www.scielo.br/pdf/pat/v50/1983-4063-pat-50-e59517.pdf

CRUZ, JOSE CARLOS CRUZ et al. Cultivo do milho. Sete Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo, 2008.

FERNANDES, ODNEI D. et al. Efeito do milho geneticamente modificado MON810 sobre a lagarta-do-cartucho Spodoptera frugiperda (JE Smith, 1797)(Lepidoptera: Noctuidae). Revista brasileira de milho e sorgo, v. 2, n. 02, 2003.

MORAES, Andrea Rocha Almeida de; LOURENÇÃO, André Luiz; PATERNIANI, Maria Elisa Ayres Guidetti Zagatto. Resistência de híbridos de milho convencionais e isogênicos transgênicos a Spodoptera frugiperda (Lepidoptera: Noctuidae). Bragantia, v. 74, n. 1, p. 50-57, 2015.

Equipe Mais Soja
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