A competição entre plantas daninhas e cultivadas por água, radiação solar e nutrientes pode ocasionar reduções significativas na produtividade da soja. Dentre as plantas com maior potencial em matocompetir com a soja, podemos destacar a Buva (Conyza spp.) e o capim-amargoso (Digitaria insularis), plantas que segundo resultados do grupo Supra Pesquisa, em densidades populacionais de uma planta por metro quadrado de área, podem reduzir em 14 e 21% a produtividade da soja, respectivamente.
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Embora o controle de plantas daninhas desempenhe papel fundamental na interferência de daninha no crescimento, desenvolvimento e produtividade da soja, o controle químico, o qual é o mais empregado no manejo de plantas daninhas, representa custo de produção.
Sendo assim, ainda que o período anterior a interferência de plantas daninhas na cultura da soja varie de acordo com as espécies de daninhas, conhecer esse período ou pelo menos ter uma noção dele, pode auxiliar produtores na tomada de decisão quanto ao momento ideal para o controle de plantas daninhas. Segundo Agostinetto et al. (2008), o período anterior a interferência (PAI) é o período no início do desenvolvimento da cultura, no qual plantas daninhas e cultivadas podem conviver sem que haja perdas significativas na produtividade da cultura.
Sendo assim, do ponto de vista teórico, durante o PAI pode não ser necessário realizar o controle de plantas daninhas, o que resulta em uma redução nos custos de produção. Entretanto, deve-se atentar para outros fatores, tais como o histórico da propriedade, as espécies presentes e o manejo da resistência de plantas daninhas, entre outros.
Você conhece o PAI para a cultura da soja?
Avaliando o PAI em soja transgênica, Benedetti et al. (2009) observaram que para a cultivar Monsoy 7908 RR, o período anterior a interferência é de 25 dias após sua emergência. Dentre as plantas daninhas presentes na comunidade de plantas infestantes durante a execução do trabalho, Benedetti et al. (2009) destacam: Alternanthera tenella (apaga-fogo), Amaranthus deflexus (caruru-rasteiro), Amaranthus viridis (caruru-de-mancha), Acanthospermum hispidum (carrapicho-de-carneiro), Bidens pilosa (picão-preto), Emilia sonchifolia (falsa-serralha), Xanthium strumarium (carrapichão), Senna obtusifolia (fedegoso), Cyperus rotundus (tiririca), Commelina benghalensis (trapoeraba), Ipomoea grandifolia (corda-de-viola), Indigofera hirsuta (anileira), Desmodium tortuosum (desmódio), Sida rhombifolia (guanxuma), Digitaria nuda (capim-colchão), Cenchus echinatus (capim-carrapicho), Panicum maximum (capim-colonião), Eleusine indica (capim-pé-de-galinha), Portulaca oleracea (beldroega) e Richardia Brasiliensis (poaia-branca). Segundo Benedetti et al. (2009), 65% das espécies que compuseram a comunidade de plantas daninhas eram dicotiledôneas e 35% eram monocotiledôneas.
Figura 1. Produção da soja ‘Monsoy 7908 RR’, em resposta aos períodos de controle e de convivência com as plantas daninhas, considerando-se uma perda de 5 % na produtividade.
Tendo em vista a variedade de plantas daninhas que compuseram a comunidade de plantas no estudo de Benedetti et al. (2009), pode-se dizer que embora hajam diferenças quando a cultivar e espécies de plantas daninhas, a definição do PAI em 25 dias após a emergência da soja, pode auxiliar no posicionamento de práticas de manejo e momento de controle das daninhas.
Contudo, cabe destacar que as diferenças entre cultivares e plantas daninhas, podem resultar em uma discrepância de valores de PAI, entretanto, o estudo de Benedetti et al. (2009), nos dá uma noção do período anterior a interferência para a cultura da soja.
Confira o trabalho completo de Benedetti et al. (2009), clicando aqui!
Embora em tese esse período permita o convívio entre plantas daninhas e cultivadas, é essencial o monitoramento da área de cultivo e a identificação das espécies infestantes para adequar práticas de manejo e controle. Ainda que num primeiro momento o PAI seja um período em que não haja interferência das plantas daninhas na produtividade da soja, deve-se atentar para o manejo da resistência e controle de plantas daninhas, especialmente as que apresentam controle dificultoso como a Buva.
Mesmo que conhecido o PAI, não se deve desprezar velhas e boas estratégias de manejo, como a semeadura no limpo, a rotação de culturas e o cultivo de plantas que produzam palhada para a cobertura do solo.
Veja também: Alelopatia do azevém: uma ferramenta interessante no manejo integrado de plantas daninhas
Referências:
AGOSTINETTO, D. et al. PERÍODO CRÍTICO DE COMPETIÇÃO DE PLANTAS DANINHAS COM A CULTURA DO TRIGO. Planta Daninha, Viçosa-MG, v. 26, n. 2, p. 271-278, 2008. Disponível em: < https://www.scielo.br/pdf/pd/v26n2/a03v26n2.pdf >, acesso em: 23/11/2020.
BENEDETTI, J. G. R. et al. PERÍODO ANTERIOR A INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS EM SOJA TRANSGÊNICA. Scientia Agraria, Curitiba, v.10, n.4, p.289-295, 2009. Disponível em: < https://revistas.ufpr.br/agraria/article/download/14801/10003 >, acesso em: 23/11/2020.