InícioDestaqueEficiência de Fungicidas para o Controle da Mancha-alvo (Corynespora cassiicola) na Soja

Eficiência de Fungicidas para o Controle da Mancha-alvo (Corynespora cassiicola) na Soja

A soja (Glycine max) é uma planta herbácea, pertencente à família Fabaceae, também conhecida como família das leguminosas. É uma oleaginosa de grande importância econômica, cultivada em todo o mundo, o Brasil destaca-se como o maior produtor mundial de soja. A principalmente finalidade do cultivo é para a produção de grãos para a extração de óleos e uso na alimentação animal.

A produção da soja, bem como de outras culturas agrícolas, está suscetível a ocorrência de doenças durante o seu ciclo de desenvolvimento, essas doenças são responsáveis por causar perda de qualidade e de produtividade na cultura. Uma das doenças que acometem a cultura da soja é a mancha-alvo, causada pelo fungo Corynespora cassiicola, de acordo com Grigolli & Grigolli (2019), o fungo é encontrado em praticamente todas as regiões de cultivo da soja no Brasil, sobrevivendo em restos de cultura e sementes infectadas, o que favorece a sua disseminação. Além disso, as condições de alta umidade relativa e temperaturas amenas propiciam um ambiente favorável para que ocorra a infecção das folhas.

Henning et al. (2014), descrevem que os sintomas da mancha-alvo se iniciam com pequenas pontuações pardas, com halo amarelado e evoluem para grandes manchas circulares, de coloração castanho-clara a castanho-escura, é comum que as manchas apresentem uma pontuação escura no centro, o que se assemelha a um alvo, sendo essa característica responsável pelo nome da doença.

Figura 1. Sintomas de mancha-alvo em soja.

Grigolli & Grigolli (2019), afirmam que a agressividade da doença ocorre quando a severidade de ataque é muito alta, com severidades de 25 a 30% estima-se que ocorra uma redução significativa na produtividade da soja, já se severidade for inferior a isso, não causam reduções significativas de produtividade. Soares et al. (2009) desenvolveram uma escala diagramática com o objetivo de avaliar a severidade da mancha-alvo na cultura da soja. Essa ferramenta proporciona maior acurácia e precisão nas estimativas, tornando o processo de avaliação da doença mais eficiente. Além disso, a escala diagramática é de fácil e rápido uso, o que auxilia na identificação e monitoramento da severidade da mancha-alvo, permitindo uma tomada de decisão mais assertiva em relação às estratégias de manejo e controle da doença.

Figura 2. Escala diagramática para avaliação da severidade da mancha-alvo da soja.

Fonte: Soares et al. (2009).

Conforme Godoy et al. (2023), a incidência da doença tem aumentado nos últimos anos, e esse fenômeno é atribuído ao cultivo de cultivares suscetíveis, bem como o uso de culturas em sucessão que atuam como hospedeiras do fungo. Além disso, outro fator que dificulta o controle da doença é  menor sensibilidade/resistência do fungo aos fungicidas.

De acordo com o Comitê de Ação a Resistência a Fungicidas – FRAC (2023), foram identificadas populações com a presença de mutações sdh B-H278-Y e C- N75S, sendo que a última tem sido encontrada em altas frequências e com incremento de ocorrência. Outras mutações foram encontradas em isolados únicos, como sdh B-H278R, B-I280V e DV152I. Essas mutações causam resistência do fungo que causam a mancha-alvo ao grupo de fungicidas das carboxamidas (SDHIs).

Os Ensaios Cooperativos de Eficiência de Fungicidas para o Controle da Mancha-alvo (Corynespora cassiicola) na cultura Soja na Safra 2022/2023 trazem informações importantes sobre a eficiência de fungicidas para o controle da mancha-alvo na cultura da soja. A rede de ensaios contou com um total de 22 experimentos, foram utilizadas cultivares consideradas suscetíveis à mancha-alvo, as áreas dos experimentos foram semeadas no início da época recomendada, a fim de reduzir a probabilidade de incidência de ferrugem-asiática, a seguir, podemos observar os resultados obtidos com os principais fungicidas disponíveis no mercado para o controle da doença.

Tabela 1. Severidade da mancha-alvo (SEV), porcentagem de controle em relação à testemunha sem fungicida (%C), produtividade (PROD) e porcentagem de redução de produtividade (%RP) em relação ao tratamento com a maior produtividade, para os diferentes tratamentos. Média de 17 locais para severidade (1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 16, 17, 18, 21 e 22) e 13 (locais 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 11, 12, 16, 17, 18 e 21) para produtividade. Safra 2022/2023.

Fonte: Godoy et al. (2023).

De acordo com os resultados obtidos, observou-se que todos os tratamentos apresentaram severidade inferior a testemunha, que não teve aplicação de fungicida. Os tratamentos que apresentaram as menores severidades e as maiores porcentagens de controle da doença foram aqueles que utilizaram a combinação de mancozebe + protioconazol + picoxistrobina (T6 – 70%), Blavity + Manfil (T10 – 70%) e Fox Xpro + Milcozeb (T12 – 69%). Observou-se que a adição de mancozebe em mistura em tanque aos produtos Blavity (T9), Fox Xpro (T11) e protioconazol + tebuconazol (T13) proporcionou um significativo aumento nos níveis de controle, aumentando o controle de 59% (T9) e 58% (T11 e T13) para 70% (T9 e T13) e 63% (T14).

As maiores severidades e menores porcentagens de controles foram observados para os tratamentos com clorotalonil e tebuconazol, sendo que o T3 apresentou controle mais elevado (49%) em comparação ao Fezan Gold (T2 – 43%), provavelmente devido à aplicação da maior dose do clorotalonil. Todos os tratamentos apresentaram uma produtividade superior em relação à testemunha que não recebeu fungicida. As maiores produtividades foram observadas para os tratamentos com Fox Xpro e Milcozeb (T12 – 4.419 kg ha-1), Blavity e Manfil (T10 – 4.310 kg ha-1), mancozebe + protioconazol + picoxistrobina (T6 – 4.308 kg ha-1), Evolution (T5 – 4.307 kg ha-1) e Armero (T4 – 4.274 kg ha-1). A média da redução de produtividade da testemunha sem fungicida em relação a maior produtividade (T12 – 4.419 kg ha-1) foi de 15,8%.



Conforme destaca Godoy et al. (2023), a redução da eficiência de alguns produção em função da menor sensibilidade do fungo aos fungicidas, vem sendo observada desde os ensaios cooperativos realizados na safra 2011/2012. A seguir, podemos observar a média da porcentagem de controle da mancha-alvo com diferentes fungicidas desde a safra 2011/2012 até a safra 2022/23.

Gráfico 1. Média da porcentagem de controle da mancha-alvo com os fungicidas carbendazim, trifloxistrobina + protioconazol (tfz + ptz), piraclostrobina + epoxiconazol + fluxapiroxade (pir + epz + fluxa), piraclostrobina + fluxapiroxade (pir + fluxa), bixafen + protioconazol + trifloxistrobina (bixa + ptz + tfz), proticonazol + fluxapiroxade (ptz + fluxa), azoxistrobina + protioconazol + mancozebe (az + ptz + mcz) e proticonazol + mancozebe (ptz + mcz) nos experimentos (n) cooperativos nas safras 2011/2012 (n=8), 2012/2013 (n=8), 2013/2014 (n=13), 2014/2015 (n=15), 2015/2016 (n=8), 2016/2017 (n=15), 2017/2018 (n=16), 2018/2019 (n=19), 2019/2020 (n=15), 2020/2021 (n=20), 2021/2022 (n=16), 2022/2023 (n=17) em diferentes regiões produtoras de soja no Brasil.

Fonte: Godoy et al. (2023).

Os autores destacam ainda que, a menor sensibilidade do fungo Corynespora cassiicola aos diversos grupos de fungicidas, torna essencial o monitoramento para determinar a sensibilidade do fungo em diferentes regiões. A fim de enfrentar o desafio da resistência, é recomendada a adoção de estratégias antirresistência, como limitar o número de aplicações de fungicidas inibidores da síntese de ergosterol (ISDH) a apenas duas por ciclo de cultivo da soja. Conforme Grigolli & Grigolli (2019), os fungicidas utilizados no controle da mancha-alvo devem ser associados com fungicidas multissítios, além da rotação de modos de ação, devido aos casos de resistência já existentes aos fungicidas utilizados no controle da doença, atrasando assim, a seleção de populações resistentes e prolongando a vida útil dos fungicidas.

Para garantir um manejo abrangente da doença, é fundamental incluir outras estratégias, como a utilização de cultivares resistentes ou tolerantes, o tratamento de sementes e a rotação ou sucessão de culturas com milho e/ou outras espécies de gramíneas. A integração dessas práticas possibilita melhorar o controle da mancha-alvo, reduzir os riscos de resistência e, consequentemente, prolongar a vida útil dos fungicidas.


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Veja mais: Mancha-alvo (Corynespora cassiicola) na Soja



Referências:

FRAC. NOVAS RECOMENDAÇÕES PARA O MANEJO DE DOENÇAS EM SOJA. Comitê de Ação a Resistência a Fungicidas, Holambra – SP, 2023. Disponível em: < https://www.frac-br.org/_files/ugd/6c1e70_5494e2a5f1204eafa26ec81bce3aec6f.pdf >, acesso em: 02/08/2023.

GODOY, C. V. et al. EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS PARA O CONTROLE DA MANCHA-ALVO, Corynespora cassiicola, NA CULTURA DA SOJA, NA SAFRA 2022/2023: RESULTADOS SUMARIZADOS DOS ENSAIOS COOPERATIVOS. Circular Técnica 194, Embrapa, Londrina – PR, 2023. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1154756/1/Circ-Tec-194.pdf >, acesso em: 02/08/2023.

GRIGOLLI, J. F. J.; GRIGOLLI, M. M. K. MANEJO DE DOENÇAS NA CULTURA DA SOJA. Tecnologia e Produção: Safra 2018/2019. Fundação MS, Maracaju – MS, 2019. Disponível em: < https://www.fundacaoms.org.br/wp-content/uploads/2021/02/Tecnologia-e-Producao-Soja-Safra-20182019.pdf >, acesso em: 02/08/2023.

HENNING, A. A. et al.  MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE DOENÇAS EM SOJA. Documentos 256, 5° ed., Embrapa Soja, Londrina – PR, 2014. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/105942/1/Doc256-OL.pdf >, acesso em: 02/08/2023.

SOARES, R. M.; GODOY, C. V.; OLIVEIRA, M. C. N. ESCALA DIAGRAMÁTICA PARA AVALIAÇÃO DA SEVERIDADE DA MANCHA ALVO DA SOJA. Tropical Plant Pathology, v. 34, Embrapa Soja, Londrina – PR, 2009. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/tpp/a/ZMwg39dYKTvktLHLpZ8pgdt/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 02/08/2023.

Foto capa: Maurício Stefanelo – Ceres Consultoria

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Redação: Vívian Oliveira Costa, Eng. Agrônoma pela Universidade Federal de Santa Maria.

 

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