Informe Técnico do Comitê de Ação a Resistência aos Herbicidas – HRAC-BR, de autoria de Adriana do Amarante, Jaqueline Schmitz, Leandro Vargas e Dirceu Agostinetto nos traz, em mapas didáticos o resultado da avaliação da susceptibilidade de biótipos de caruru provenientes de lavouras de soja do Rio Grande do Sul aos herbicidas inibidores da EPSPs, ALS, PROTOX, GS e mimetizadores de auxinas.
Fonte: INFORME TÉCNICO – HRAC – Vol. 0004 / Núm. 0001/ 26 de janeiro de 2022. Para acessar o Informe completo clique aqui.
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Introdução
As espécies do gênero Amaranthus são caracterizadas pela alta prolificidade, rápido crescimento inicial, adaptabilidade e alta eficiência fotossintética. Estes fatores as tornam boas competidoras, dificultando seu manejo pela reduzida janela de controle e elevados níveis de infestação.
As dificuldades de controle do gênero se intensificaram com a evolução de biótipos resistentes a herbicidas, ocasionada pelo uso continuo de único mecanismo de ação. Dentre os mecanismos de ação mais utilizados no controle de caruru, estão os inibidores da acetolactato sintase (ALS) e o glyphosate (inibidor da EPSPs). Os inibidores de ALS tiveram seus primeiros casos de resistência de caruru em 1991, em A. blitoides e A. retroflexus. Desde então, já foram registrados 95 casos em 9 espécies do gênero (HEAP, 2021). Já, para glyphosate, os primeiros casos de resistência de caruru datam de 2005 nas espécies A. palmeri e A. tuberculatus. Desde então são 80 casos de resistência registrados (HEAP, 2021).
Com a rápida evolução da resistência aos inibidores da ALS e EPSPs e o aumento nos casos de resistência múltipla aos dois mecanismos, cria-se a necessidade de maior rotação de mecanismos de ação. Dentre as alternativas estão os inibidores da protoporfirinogêniooxidase (PPO), os inibidores da glutamina sintetase (GS) e os mimetizadores de auxina, tendo os dois últimos novas perspectivas, pelo desenvolvimento de novas transgenias que permitirão sua aplicação em pós-emergência na cultura da soja (SCHWARTZ-LAZARO et al., 2017).
Atualmente tem se observado ineficiência no controle de caruru nas lavouras de soja do Rio Grande do Sul (RS). Nesse cenário, é importante realizar estudos para avaliar a eficiência dos herbicidas em condições ideias, para definir se as dificuldades de controle são decorrentes de falhas na tecnologia de aplicação ou da evolução e disseminação de biótipos resistentes.
Assim, objetivou-se com este trabalho avaliar a susceptibilidade de biótipos de caruru provenientes de lavouras de soja do Rio Grande do Sul aos herbicidas inibidores da EPSPs, ALS, PROTOX, GS e mimetizadores de auxinas.
Materiais e métodos
As coletas das sementes foram realizadas nos anos de 2020 e 2021, em lavouras de soja do Rio Grande do Sul infestadas com caruru, sobreviventes à aplicação de glyphosate ou de sua associação com outros herbicidas. Ao total, foram coletados 227 biótipos, de 92 municípios em 2020, e 220 biótipos de 98 municípios em 2021. Todas as coletas foram georreferenciadas utilizando as coordenadas geográficas do Global Positioning System.
Os testes de susceptibilidade foram realizados entre março a junho de cada ano em casa de vegetação do Centro de Herbologia (CEHERB/FAEM/UFPel), localizado no município de Capão do Leão/ RS.
As sementes passaram por procedimento para superação de dormência física (escarificação) e fisiológica (ácido giberélico) e mantidas por três dias em câmara de crescimento (BOD). Após esse período foi feita semeadura em bandejas de produção de mudas e posterior transplante para copos em casa de vegetação. A aplicação dos herbicidas foi realizada quando as plantas apresentavam quatro a seis folhas. Para a aplicação utilizou-se pulverizador costal pressurizado com CO2, com bicos do tipo leque, pontas 110.015 e volume de calda de 150 L ha-1.
Para cada herbicida foi testada a máxima dose de bula e o dobro da dose. Os herbicidas testados foram: glyphosate (720 ou 1440 g e.a. ha-1 ), chlorimuron (20 ou 40 g i.a. ha-1 + Veget Oil® a 0,5 v/v), fomesafen (250 ou 500 g i.a. ha-1 + Energic® a 0,2 v/v), amônio glufosinato (500 ou 1000 g i.a. ha-1 + Mess® a 0,2 v/v) e 2,4-D (670 ou 1340 g e.a. ha-1 ).
Avaliou-se o controle aos 28 dias após a aplicação (DAA), utilizando-se escala percentual de zero a cem, onde zero correspondeu a ausência de sintomas de intoxicação e cem a morte da planta. Com os dados tabulados foram confeccionados mapas dividindo os biótipos em três classes: verde = controle ≥80% (susceptibilidade alta); amarelo = controle entre 70 e 80% (susceptibilidade média); e, vermelho = controle £ 70% (susceptibilidade baixa).
Resultados
Para a dose de bula de glyphosate, em 2020 foram estabelecidos 174 biótipos. Destes, 19,5% (34) obtiveram controle inferior a 70%, os 80,5% restantes foram efetivamente controlados (Figura 1a). Para 2021, foram testados 205 biótipos e os percentuais de biótipos com susceptibilidade baixa, média e alta foram de 33,7% (69), 2,4% (5) e 63,9% (131), respectivamente (Figura 1b).
Quando avaliado o dobro da dose de glyphosate, em 2020, 16,9% (25) dos biótipos apresentaram controle inferior a 70% e 83,1% (123) apresentaram controle superior a 80% (Figura 1c). Em 2021, 31,4% (65) dos biótipos foram considerados com susceptibilidade baixa ou seja, suspeitos de resistência (Figura 1d).
Conclusões
A sobrevivência de biótipos ao glyphosate e ao chlorimuron após aplicação do dobro da dose de registro sugere a ocorrência de biótipos resistentes. Dos biótipos com susceptibilidade baixa aos herbicidas, quando aplicada a dose de registro, em média 51,6%
sobreviveram a mais de um herbicida, enquanto para o dobro da dose 38,9% sobreviveram a mais de um herbicida.
Os herbicidas fomesafen e amônio glufosinato, independente da dose testada, controlam eficientemente caruru.
Para validação da resistência das espécies, estudos complementares de curva dose resposta, herdabilidade e mecanismo de resistência precisam ser comprovados.
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Fonte: INFORME TÉCNICO – HRAC – Vol. 0004 / Núm. 0001/ 26 de janeiro de 2022.
Título: Mapeamento da suscetibilidade de Amaranthus spp. a herbicidas no Rio Grande do Sul.
Autores:
– Adriana do Amarante – Acadêmica do Programa de PósGraduação em Fitossanidade /FAEM/UFPel;
– Jaqueline Schmitz – Acadêmicas do Programa de PósGraduação em Fitossanidade /
FAEM/UFPel;
– Leandro Vargas – Pesquisador da Embrapa Trigo;
– Dirceu Agostinetto – Professor titular da Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel/UFPel
agostinetto.d@gmail.com