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Quanto tempo leva para as plantas de cobertura liberar N no solo?

É conhecido que algumas espécies de plantas de cobertura possuem a capacidade de ciclar nutrientes, absorvendo esses nutrientes das camadas mais profundas do perfil do solo, e disponibilizando-os para as culturas sucessoras através da decomposição e mineralização dos resíduos culturais.

Além de outros efeitos benéficos, essa ciclagem de nutrientes, em especial dos macronutrientes (N-P-K) é um dos fatores que mais atrai no cultivo de plantas de cobertura. Dentre os nutrientes ciclados, destaca-se o Nitrogênio (N), nutriente mais requerido por culturas agrícolas, e fonte da limitação de produtividade de muitos sistemas de produção.

Dependendo da espécie vegetal, o acúmulo de nitrogênio dos resíduos culturais pode ser superior a 200 kg ha-1 (Tabela 1). No geral, espécies leguminosas (fixadoras de Nitrogênio), apresentam maior capacidade em acumular nitrogênio dos resíduos culturas, Nitrogênio esse, oriundo da ciclagem de nutrientes do solo e da fixação biológica de nitrogênio (FBN).

Tabela 1. Quantidade de Nitrogênio fixado por leguminosas.
* Cálculo referente a dois terços do nitrogênio encontrado na parte aérea das leguminosas acima. Fonte: Piraí Sementes (2005), Apud. Carlos; Costa; Costa (2006)

Quando inseridas na rotação de culturas, essas culturas com grande acúmulo de N podem contribuir significativamente para o aumento da produtividade da cultura em sucessão, especialmente se tratando de culturas responsivas ao Nitrogênio como gramíneas de inverno.

No entanto, não necessariamente o N nos resíduos culturais esta prontamente disponível para a cultura sucessora. O Nitrogênio presente nos tecidos vegetais está na forma orgânica, e, portanto, não é assimilável pelas plantas. Para que a absorção e assimilação do N ocorra, é preciso que os resíduos vegetais sejam decompostos e mineralizados. A mineralização do Nitrogênio é definida como a transformação biológica do N orgânico em N inorgânico por microrganismos (produção principalmente de nitrato e amônio) (Silva et al., 2011).


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Essa transformação varia de acordo com as condições ambientais, físico e químicas do solo, bem como pela sua fauna microbiana. Normalmente em função da natureza dos resíduos, restos vegetais oriundos de plantas com baixa relação C/N (leguminosas) são degradados mais rápido em comparação a resíduos de alta relação C/N (resíduos oriundos de gramíneas), e por consequência, tendem a apresentar uma mineralização e liberação do N mais rápida.

Conforme observado por Ziech et al. (2014), espécies como ervilhaca e tremoço branco podem liberar mais de 40% do N acumulado em até 45 dias após manejo (dessecação), tendo uma alta taxa de liberação de Nitrogênio, característica típica de leguminosas. Já gramíneas (Poaceas) como azevém, aveia preta e centeio, tendem a apresentar uma lenta e gradual liberação de Nitrogênio.

Figura 1. Liberação de nitrogênio (N) pelas plantas de cobertura de inverno em sistema de cultivo antecedendo a cultura do milho. A+E+N = Aveia+Ervilhaca+Nabo; A+E = Aveia+Ervilhaca.
Fonte: Ziech et al. (2014)

Conforme observado por Oliveira et al. (2015), dependendo da cultura e natureza dos resíduos vegetais, a liberação de N nos resíduos pode ultrapassar os 90 dias, demonstrando que é um processo lento e gradual. No geral, pode-se dizer que leguminosas tendem a apresentar uma maior taxa de liberação do Nitrogênio em comparação às gramíneas, entretanto, as gramíneas tendem a apresentar uma maior persistência de liberação do Nitrogênio, bem como permanência da palhada na superfície do solo.

Visando agregar os benefícios trazidos por ambas as famílias vegetais, pode-se dizer que o consórcio entre gramíneas e leguminosas tende a ser uma interessante alternativa para promover a ciclagem de nutrientes e a proteção do solo.


Plantas de cobertura: Posicionamento das espécies e seleção das sementes é fundamental para a manutenção do sistema plantio direto



Referências:

CARLOS, J. A. D.; COSTA, J. A.; COSTA, M. B. ADUBAÇÃO VERDE: DO CONCEITO À PRÁTICA. Série Produtor Rural – nº 30, Piracicaba, 2006. Disponível em: < https://ciorganicos.com.br/wp-content/uploads/2017/10/Adubacao-Verde-do-conceito-a-pratica-USP-CI-Organicos-OrganicsNet.pdf >, acesso em: 02/05/2024.

OLIVEIRA, R. A. et al. Decomposição e Liberação de Nutriente da Matéria Seca de Plantas de Cobertura e Alteração na Produção da Cebola em Sistema de Plantio Direto. XXXV Congresso Brasileiro de Ciência do Solo, 2015. Disponível em: < https://eventosolos.org.br/cbcs2015/arearestrita/arquivos/757.pdf >, acesso em: 02/05/2024.

SILVA, N. G. et al. MINERALIZAÇÃO DO NITROGÊNIO E DISPONIBILIDADE DE NUTRIENTES APÓS INCORPORAÇÃO DE ADUBOS ORGÂNICOS EM LATOSSOLO AMARELO CULTIVADO COM CUPUAÇU. XX Jornada de Iniciação Científica PIBIC INPA, 2011. Disponível em: < https://repositorio.inpa.gov.br/bitstream/1/2771/1/pibic_inpa.pdf >, acesso em: 02/05/2024.

ZIECH, A. R. D. et al. PLANTAS DE COBERTURA DO SOLO NA MELHORIA DO SISTEMA PLANTIO DIRETO. Revista Plantio Direto, Ed. 141, 2014. Disponível em: < https://www.plantiodireto.com.br/storage/files/141/7.pdf >, acesso em: 02/05/2024.

 

Equipe Mais Soja
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