Os inseticidas químicos são ferramentas essenciais na proteção da soja, e demais culturas agrícolas, contra o ataque de pragas. De acordo com Comitê de Ação contra Resistência a Inseticidas (IRAC), existem atualmente cerca de 30 modos de ação diferentes, classificados em quatro grandes categorias de acordo com o processo biológico afetado no inseto: sistema nervoso e muscular, crescimento e desenvolvimento, respiração celular e sistema digestivo. Há ainda produtos que não se encaixam nessa classificação por atuarem simultaneamente em mais de um sítio, ou cujo sítio de ação ainda é desconhecido.
Várias características importantes dos inseticidas, como velocidade de ação, espectro de controle e toxicidade no ambiente, são determinadas pelo seu modo de ação. Determinados grupos químicos atuam especificamente sobre um tipo de praga, como sugadores ou desfolhadores, enquanto outros apresentam amplo espectro de ação e baixa seletividade. Além disso, o local do organismo onde o inseticida atua (ou seja, o seu sítio de ação) influencia no risco de surgirem populações de pragas resistentes a esse ingrediente ativo. Portanto, o conhecimento acerca dos modos de ação é fundamental para propiciar um manejo de pragas mais assertivo e sustentável.
Figura 1. Sítios de ação dos principais inseticidas químicos utilizados atualmente. A representação de um percevejo é meramente ilustrativa, já que vários desses inseticidas não apresentam efeito de controle sobre essa espécie.

Semelhantemente aos inseticidas neuromusculares, e diferentemente dos reguladores de crescimento, os inibidores da respiração celular agem tanto por contato quanto por ingestão, apresentando ação relativamente rápida. Entretanto, essa eficiência vem acompanhada de uma toxicidade média a alta sobre organismos não-alvo. Por outro lado, apresentam baixo risco de desenvolvimento de resistência nas populações de pragas, constituindo ferramentas valiosas em programas de manejo integrado (MIP).
Assim como ocorre nos seres humanos e demais animais, as células dos insetos utilizam a energia contida em moléculas de ATP para realizar seus processos biológicos. Essas moléculas são produzidas nas mitocôndrias por meio da fosforilação oxidativa, um processo que envolve a passagem de elétrons e prótons através da membrana mitocondrial. A maior concentração de prótons em um lado de membrana (gradiente de prótons) permite a ativação da enzima ATP-sintase no momento em que esses prótons deslocam-se naturalmente para o outro lado da membrana, produzindo ATP.
O diafentiurom e os inseticidas organoestânicos são capazes de inibir diretamente a ATP-sintase mitocondrial, levando o inseto à morte por falência energética das células. São produtos eficientes no controle das principais pragas sugadoras e também dos ácaros, com praticamente nenhum efeito sobre insetos benéficos. Já o gás fosfina, largamente utilizado no expurgo de grãos para controle de pragas de armazenamento, atua em outro ponto da cadeia de transporte de elétrons na membrana mitocondrial, gerando o mesmo efeito de controle.
Quanto ao clorfenapir, pertencente ao grupo químico dos inseticidas pirroles, trata-se de um produto altamente efetivo contra larvas de lepidópteros (lagartas) e coleópteros (besouros), além de ácaros e tripes. Além disso, apresenta excelente ação translaminar, atingindo os insetos na face oposta da folha na qual foi aplicado (Figura 2). Esse ingrediente ativo torna a membrana mitocondrial permeável à passagem de íons e desfaz o gradiente de prótons, impedindo o funcionamento correto da ATP-sintase. Por não agir sobre uma proteína específica, o clorfenapir não está sujeito ao surgimento de resistência nos insetos por alteração do sítio de ação. A resistência cruzada com outros inseticidas também é pouco provável.
Figura 2. Representação do controle de pulgões por contato direto com o inseticida e por translocação do ingrediente ativo via xilema e ação translaminar.

Por fim, temos os chamados inseticidas METI (fenazaquin, fenpiroximate, pirimidifen, tebufenpirade etc.), que também agem na cadeia de transporte de elétrons. Altamente efetivos como acaricidas, esses produtos são usados para controlar ácaros tetraniquídeos em algodão, citrus, culturas olerícolas e ornamentais, além de fornecer controle sobre mosca-branca. Em geral, apresentam ação rápida e longo efeito residual, controlando todas as fases de vida dos ácaros e insetos suscetíveis.
O quarto e último grupo de inseticidas (atuantes no sistema digestivo) não inclui ingredientes ativos sintéticos, mas sim derivados de bactérias e vírus. Tratam-se dos produtos formulados à base de Bt (Bacillus thuringiensis e Bacillus sphaericus) e baculovírus (granulovírus/GV e nucleopoliedrovírus/NPV), ambos atuando como disruptores da membrana do mesêntero (intestino médio) e levando os insetos à morte por septicemia (infecção generalizada). São inseticidas altamente seletivos e eficientes no controle de lepidópteros (lagartas), embora de ação lenta.
Ressalta-se que inseticidas dotados de novos modos de ação surgem no mercado apenas a cada cinco ou dez anos, denotando a importância de prevenir-se o surgimento de resistência em pragas por meio da rotação dos modos de ação nas lavouras. Para conhecer de forma mais detalhada o funcionamento de cada modo de ação, acesse: https://maissoja.com.br/?s=como+funcionam+os+inseticidas+henrique+pozebon
Revisão: Prof. Jonas Arnemann, PhD. e coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM
Referências:
SALGADO, V. L. 2013. BASF Insecticide Mode of Action Technical Training Manual. Disponível em: https://agriculture.basf.com/global/assets/en/Crop%20Protection/innovation/BASF_Insecticide_MoA_Manual_2014.pdf
IRAC. 2018. Mode of Action Classification Scheme.
Disponível em: https://www.irac-online.org/documents/moa-structures-poster-english/?ext=pdf